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Índios Krenak e Vale do Rio Doce negociam compensações por construção de hidrelétrica

Radiobrás-Brasília-DF
Autor: Juliana Cézar Nunes
18 de Dez de 2005

Os índios da tribo Krenak esperam continuar em 2006 uma negociação iniciada nos últimos dias com representantes da Companhia Vale do Rio Doce, em três encontros. A primeira reunião do ano está marcada para o dia 17 de janeiro. Para os Krenak, o encontro tem valor histórico.

Eles reivindicam uma indenização de R$ 30 milhões por impactos deixados pela construção da Usina Hidrelétrica de Aimorés (MG). O empreendimento foi iniciado em 1998 por um consórcio entre a Vale do Rio Doce e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). As instalações estão na região do Rio Doce, entre os municípios de Aimorés, Itueta e Resplendor (MG).

"Até hoje, a usina não entrou em funcionamento por causa da quantidade de irregularidades da obra, que prejudicou os povos ribeirinhos. No projeto de construção, eles falam da nossa tribo em apenas um parágrafo", afirma o líder indígena Rondon Krenak. "No início do mês, paralisamos durante 50 horas a ferrovia que liga Minas Gerais ao Espírito Santo. Desbloqueamos com a condição da Vale, pela primeira vez em 100 anos, se dispor a nos ouvir."

Os Krenak acreditam que a empresa de mineração tem uma dívida secular com a população indígena. A construção da Estrada de Ferro Vitória-Minas, no início do século passado, teria promovido invasão e desmatamento das terras dos índios. A tribo também aponta a extração do minério de ferro como causa de poluição e degradação do Rio Doce.

A construção da hidrelétrica, que começou em 1998, seria responsável por novos prejuízos para a comunidade indígena. Entre eles, a redução no número de peixes no rio e até mesmo extinção de algumas espécies. "O transbordamento do rio aumentou. A terra indígena está ficando ilhada ainda no princípio do período de chuvas. Em março, o alagamento deve obrigar as famílias a abandonar suas casas", conta Ailton Lacerda, índio Krenak e assessor do governo mineiro para assuntos indígenas.

De acordo com ele, a construção da hidrelétrica também causou prejuízos nas transações comerciais feitas pela tribo. Produtos agrícolas e artesanais que antes eram vendidos em comunidades próximas hoje ficam encalhados. Um dos principais mercados consumidores, a cidade de Itueta, teve de ser transferida para outro local por causa da usina.

A tribo indígena Krenak tem cerca de 50 famílias, que reúnem 250 pessoas. Elas vivem em um território de 4 mil hectares, na margem esquerda do Rio Doce. Com o dinheiro da indenização pela construção da hidrelétrica, as famílias pretendem investir em projetos de desenvolvimento sustentável.

Os Krenak afirma ser descendentes dos famosos índios botocudos, praticamente exterminados durante a colonização portuguesa. Nômades e guerreiros, eles transitavam em diferentes áreas ao longo do rio Doce em atividades de caça e coleta de alimentos. Existem sítios culturais dos Krenak a 400 quilômetros da atual terra indígena.

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