VOLTAR

Índios invadem fazenda na Bahia em protesto contra transposição

OESP, Nacional, p. A11
11 de Jul de 2007

Índios invadem fazenda na Bahia em protesto contra transposição
Cerca de 300 tumbalalás ocupam fazenda onde estão previstas barragens

Tiago Décimo

Cerca de 300 integrantes da tribo Tumbalalá invadiram, na madrugada de ontem, a Fazenda Palestina, em Curaçá (BA), a 593 quilômetros de Salvador, divisa com Pernambuco, às margens do Rio São Francisco. No local, está prevista a construção de duas barragens durante as obras de transposição.

Os tumbalalás, que habitam a aldeia Pambu, nas proximidades da fazenda, reivindicam a área onde serão realizadas as obras e temem que a transposição afete a pesca e a agricultura, principais fontes de renda dos índios. "Estamos perdendo nossas áreas e vamos ter prejuízos com a transposição", afirma a líder da aldeia, Maria José Marinheiro. De acordo com ela, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, visitou a tribo e prometeu melhorias para os índios, com a instalação de redes de saneamento básico. "Já explicamos a ele que essas melhorias não podem ser condicionadas à transposição, já que são obrigações do Estado, e que somos contrários à obra", afirma Maria José. As intervenções para construção das barragens ainda não foram iniciadas no local.

A manifestação ocorre duas semanas depois de índios da tribo Trucá invadirem, na outra margem do São Francisco, a área onde tiveram início as obras de transposição, na zona rural de Cabrobó (PE). Os trucás deixaram a área na quinta-feira e as obras foram reiniciadas no fim de semana.

PROJETO CRITICADO

Desta vez, a crítica saiu de dentro do governo. A 3ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar aprovou pedido para que o governo federal suspenda imediatamente as obras de transposição do São Francisco.

Organizada pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), a conferência tem representantes do governo e da sociedade civil, mas os governistas perderam feio na votação do documento final do encontro.

Por ser um conselho vinculado à Presidência, a distribuição do material sobre a conferência causou situação inusitada: o texto para a imprensa divulgando as críticas sobre a transposição foi enviado por e-mail do próprio Palácio do Planalto.

O Consea é formado por um terço de conselheiros do governo e dois terços de conselheiros da sociedade e pretende ser um órgão consultivo, que assessora a Presidência da República na formação de políticas de segurança alimentar. Já a conferência, com 1,8 mil delegados, tem uma formação parecida, mas onde o governo tem ainda menor influência.

"Respeito a manifestação do Consea, mas ele é só um órgão consultivo e não deliberativo. O governo acata algumas sugestões do Consea, outras não. Esta, com certeza, não será acatada", reagiu Geddel.

OESP, 11/07/2007, Nacional, p. A11

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.