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Índios invadem área e estão de olho em mais 25

Correio do Estado-Campo Grande-MS
Autor: Antonio Viegas
14 de Set de 2004

Índios que estão acampados há mais de três anos na região ocuparam uma das fazendas em Caarapó

O Governo federal declarou como indígenas 11,4

hectares de terras, envolvendo 26 propriedades, entre elas a do deputado José Teixeira

Cerca de 850 índios guaranis-caiuás decidiram ocupar parte da Fazenda
Ypuitã, de propriedade de Saulo de Oliveira, no município de Caarapó,
assim que tomaram conhecimento da publicação no Diário Oficial da
União da portaria que declara como indígenas cerca de 11,4 mil
hectares de terra na região. Essa área é formada por 26 propriedades
rurais, sendo uma delas de propriedade do deputado estadual José
Teixeira (PFL). Os índios já estavam há mais de três anos acampados à
beira da estrada, à frente da área ocupada, e no final de semana
decidiram passar para o outro lado da cerca.

No domingo, representantes do Ministério Público Federal (MPF)
estiveram no local conversando com o grupo de indígenas para saber a
real intenção. O MPF pediu para que não tentem provocar qualquer tipo
de situação que possa levar a um conflito e, inclusive, para que os
indígenas não se aproximassem da sede da propriedade. A intenção é de
evitar qualquer problema que possa prejudicar o processo, que está
transcorrendo de forma tranquila e que, de acordo com o laudo
antropológico elaborado pela Fundação Nacional do Índio (Funai),
favorece os indígenas.

De acordo com o laudo elaborado pelo antropólogo Levi Marques
Pereira, na área, denominada como terra indígena Guyraroká (terreiro
de passarinho em guarani), "os dados apresentados e analisados no
relatório permitem afirmar sem nenhuma dúvida que a região é
território tradicionalmente ocupado por um conjunto de parentelas
desse grupo étnico". Segundo consta, "a ocupação é anterior ao início
da venda e titulação das terras para particulares, portanto constitui
medida justa, legal e legítima a sua identificação, delimitação e
posterior demarcação como terra indígena".

O antropólogo afirma ainda que, com base em documentos, muitas
gerações de kaiowás viveram ali antes que as frentes de ocupação para
extração de erva-mate, criação de gado e prática de agricultura
adentrassem na região. Eles só teriam deixado as terras por pressão
dos colonizadores, desarticulando a vida comunitária dos kaiowás, mas
mesmo assim muitas famílias insistiram em permanecer, trabalhando
como peões para os fazendeiros. Essa estratégia de permanência na
terra foi praticada até o início da década de 1980, quando as últimas
famílias foram obrigadas a deixar o local.

A ocupação ocorrida no final de semana, segundo os índios, é apenas
uma forma de garantir um espaço, pelo menos que seja possível
produzir alimento para suas famílias. Eles querem apenas ficar na
área até que o processo seja definitivamente concluído, sem
prejudicar funcionários ou até mesmo os proprietários da fazenda. De
acordo com os indígenas, eles pretendem permanecer somente na área
onde estão e garantiram que não vão provocar problemas. Eles esperam,
no entanto, não ser provocados pelos fazendeiros, já que não têm
intenção de confronto.

A assessoria jurídica do proprietário da fazenda prefere não falar
muito a respeito do caso. Limita-se apenas a dizer que já existe uma
ação tramitando na Justiça contestando o processo de identificação da
área e que, em relação ao episódio do último final de semana, estão
sendo tomadas as devidas providências, principalmente a de
reintegração de posse da área.

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