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Índios iniciam mudança para o norte

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: ALINE CUBAS
14 de Jan de 2003

Depois de vinte anos de espera e diversos atos de protesto, etnia enfim consegue uma área para viver

Índios da etnia terena, que fecharam a BR-163 diversas vezes, tiveram atrito com caminhoneiros e mantiveram jornalistas reféns: enfim a terra

Mato Grosso começa a assistir na próxima semana aos últimos capítulos de uma novela que se arrasta há 21 anos: a luta de cerca de 300 índios terenas por uma área definitiva.

A partir de segunda-feira o primeiro grupo de 60 índios deixa Rondonópolis (208 quilômetros ao sul de Cuiabá) e segue para o norte do estado, região em que o governo federal disponibilizou uma área de 52 mil hectares.

Há cerca de três anos, os terenas permanecem acampados na fazenda Lago Azul, da família do deputado federal Wellington Fagundes (PL), localizada às margens da BR-163 e distante 20 quilômetros de Rondonópolis.

A nova terra, conhecida como gleba Iriri, fica situada nos municípios de Matupá e Peixoto de Azevedo, nas proximidades do território indígena Panará, e foi aprovada pelos terenas depois de duas visitas realizadas no segundo semestre do ano passado. A primeira, resumida a um sobrevôo, e a segunda, mais detalhada, na qual um grupo se deslocou até o local em um microônibus.

De acordo com o administrador da Funai em Rondonópolis, José Pereira Miranda Filho, os índios chegarão em sua nova área já com implementos agrícolas e equipamentos necessários para a instalação de infra-estrutura como estradas e moradia. Ainda segundo Miranda, o governo federal liberou R$ 1,5 milhão para fazer frente a essas despesas de construção de estrutura básica para atender os índios.

A luta desse grupo de terenas data do início da década de 80, depois de migrarem de Mato Grosso do Sul onde a reserva não comportava mais o número de índios da etnia.

Para pressionar o poder público, eles já bloquearam rodovias, fizeram profissionais da imprensa de reféns, acamparam em frente à Funai e prefeitura, cobraram pedágio na BR-364 e fizeram passeata em frente ao Palácio Paiaguás, sede do governo do estado.

Em julho do ano passado, a situação parecia que finalmente seria resolvida com a compra pelo Incra de fazendas que compõem o complexo Tarumã, em Guiratinga (334Km de Cuiabá). Mas parecer jurídico do Ministério da Justiça desaconselhou a operação porque os terenas não são poderiam ser caracterizados como sem-terra e, portanto, não poderiam ser clientes da reforma agrária.

Na Justiça Federal está tramitando um processo de indenização por danos morais e materiais aos terenas proposto pelo Ministério Público Federal.

A solução para o problema fundiário dos terenas é resultado da mobilização ao longo desses anos e do trabalho de representantes do Ministério da Justiça, por meio da Fundação Nacional do Índio (Funai), de membros do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Ministério Público Federal.

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