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Índios Guaranis podem morrer de fome, diz ONG

BBC-Brasil
17 de Out de 2007

Um relatório da organização não-governamental britânica Survival International, divulgado nesta terça-feira, em Londres, afirma que os índios Guaranis correm o risco de morrer de fome no Brasil porque perderam terras.

O estudo Progress Can Kill (O Progresso Pode Matar) trata dos problemas provocados pelo desenvolvimento aos indígenas e diz que as florestas estão sendo transformadas em pastos e plantações de soja e cana-de-açúcar.

"Suas crianças estão morrendo de fome. Quase nenhuma outra tribo sofreu perda tão extrema de terra e sobreviveu", afirma o documento.

A ONG se diz preocupada com os Guaranis que estão numa reserva em Mato Grosso do Sul. Segundo o levantamento, atualmente 11 mil índios vivem apertados numa área com capacidade máxima para 300.

Esmolas

O relatório trata como esmolas as doações de alimentos feitas pelo governo e observa que o índio tem dificuldade para encontrar madeira para cozinhar.

Afirma ainda que tribos que escolhem seus meios de vida podem até sentir fome, mas é extremamente raro ficarem subnutridas.

A Survival International lembra, ainda, problemas enfrentados pelos Parakanã, no Pará, e nas bacias de Tocantins e Xingu, na década de 70. E com os Yanomamis, entre os anos 80 e 90.

No caso da tribo Parakanã, a abertura das estradas expôs as índias ao contato com os trabalhadores. Trinta e cinco delas contraíram gonorréia.

Já na tribo Yanomami, segundo o levantamento, 20% dos índios morreram em sete anos, após mineiros passarem a explorar o local, levando doenças e violência para a região.

Fome

O relatório Progress Can Kill faz, também, um relato da situação de tribos em outros lugares do mundo. Ressalta que a fome, problemas de saúde e de depressão estão se espalhando entre os índios.

De acordo com o documento, em 2005, a maioria das crianças da tribo Guarani Mbya ficaram subnutridas. No ano seguinte, 20 morreram de fome em apenas três meses.

Esses índios estão perdendo 10% de suas terras, anualmente, ficando sem local para o plantio de alimentos.

Na tribo Andamanese, na Índia, 150 bebês morreram antes de completar três anos de idade e muitos dos índios sobreviventes estão com tuberculose ou são alcoólatras.

Segundo o relatório, os aborígines da Austrália têm seis vezes maior probabilidade de sofrer infarto, oito vezes no caso de doença pulmonar ou cardíaca e o risco de morrer de diabetes é 22 vezes maior. Sua expectativa de vida no nascimento é 17 a 20 anos menor que a dos outros australianos.

Na Indonésia, a taxa de infecção de HIV/Aids na tribo Papuan é 15 vezes maior que a média nacional.

No Canadá, muitos índios estão consumindo drogas e álcool. Isso tem aumentado os casos de violência sexual e de suicídio. Neste caso, a taxa já ultrapassa dez vezes a média nacional.

Tarde demais

A divulgação do relatório está sendo feita com apoio do líder indígena da Amazônia, Davi Kopenawa Yanomami. Depois de expor as informações em Londres, ele seguirá para a Alemanha, onde deve falar com políticos sobre os riscos que o desenvolvimento traz a essas etnias.

Davi argumenta que é preciso ouvir agora os que os índios estão falando, antes que seja tarde demais para seu povo e também para o restante da população.

Ele observa a necessidade de proteger as florestas para combater o aquecimento global e diz que o único caminho para salvá-las é salvar os índios, reconhecendo seu direito à terra.

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