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Índios garantem só sair da Funai quando foram atendidos

A Tarde-Salvador-BA
24 de Abr de 2002

Um grupo com mais de 300 índios pataxós hã-hã-hãe das aldeias de Caramuru, Barretá e Panelão, localizadas na região de Pau Brasil e Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, ocupou, ontem pela manhã, a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Eunápolis. O objetivo é destituir do cargo o administrador regional do
órgão, Arival Barreira Parente, que estaria, de acordo com eles, semeando a discórdia entre as comunidades indígenas.
Os índios também pedem o afastamento dos funcionários Antônio Manoel Silva, ex-gerente; Sandro, chefe de assistência, e Irene, coordenadora de Educação. O cacique Gerson Pataxó afirmou que ficarão no local por tempo indeterminado, até que as suas reivindicações sejam atendidas.
Segundo o cacique, os oito funcionários que se encontravam no prédio no momento da
ocupação poderão continuar trabalhando normalmente. "Só sairão se for da vontade deles, pois este é um manifesto pacífico. Não viemos brigar com ninguém, só não deixaremos o administrador e os funcionários cúmplices dele entrarem", afirmou Gerson Pataxó. Ele revela que a situação nas aldeias é de fome, conflitos violentos e agora, para piorar, de desunião. "Barreira está jogando índio contra índio. Quando as lideranças vêm fazer reivindicações em benefício da comunidade não são atendidas, mas ele atende pedidos individuais que só favorecem um grupo dentro da tribo, causando a discórdia. Para ele, quanto mais fracos ficarmos é melhor, pois assim nunca venceremos nossa luta, que é ter as terras indígenas demarcadas", coloca o cacique.
Além do afastamento de Arival Barreira, os índios exigem a demissão do ex- gerente Antônio Manoel Silva. "Ele saiu porque desviou muito dinheiro da Funai, mas depois engavetaram a sindicância, e ele continua influenciando na administração atual. Também queremos o afastamento do Sandro, chefe de assistência, pois nunca atende as reivindicações das lideranças, mas concede favores especiais para certos índios; e de Irene, porque a educação nas aldeias está um caos", explica o cacique.
O grupo faz outras reivindicações, como a compra de novos veículos e o conserto dos que se encontram estragados, sementes para a agricultura, material para educação e alimentação para as famílias. "Estamos passando fome pois não temos condições de trabalhar. As fazendas ocupadas pelos índios estão cercadas de pistoleiros e fazendeiros. Não podemos sair para o campo pois estamos ameaçados de morte", revela o cacique.
A área de saúde, segundo Gerson, é outra que maltrata os índios: "Falta medicamentos e ambulância para levar os doentes, entre outras coisas. As aldeias estão se acabando".
E as reivindicações do grupo não param por aí. Uma das principais delas é que se faça justiça ao índio Nilton Mattos da Silva, da aldeia Caramuru, assassinado há um mês pelo fazendeiro Joel Brito. "Ele tinha acabado de tirar leite e vinha com a lata na cabeça quando foi covardemente atingido com um tiro no peito. Na época, pedimos a interferência da Polícia Federal e até hoje eles não pisaram os pés lá", lembra o cacique, o qual ressalta que muitos índios na região de Pau Brasil têm morrido lutando para que suas terras sejam demarcadas.
O cacique Gerson Pataxó e os representantes das outras aldeias encaminharam ontem, à tarde, um documento para o presidente da Funai, Glênio da Costa Alvarez, solicitando a substituição imediata de Arival Barreira. O administrador substituto, Cleto Antônio de Lima e Silva, afirmou que vão aguardar a decisão do presidente e que os servidores irão deixar o prédio. Enquanto durar a ocupação, falou Cleto, será fornecida a alimentação aos índios, "afinal a Funai é um órgão assistencialista", disse.

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