Folha de Boa Vista- Boa Vista-RR
06 de Dez de 2002
O coordenador da Pastoral Indigenista (PI) admite a falta de segurança diante dos pedidos de ampliação de reservas. Porém, alega que o fato só ocorre quando os índios são enganados, como já aconteceu. Ele reconhece existir "invasores" de boa-fé e que estes também devem ter seus direitos garantidos.
"Há vários anos, acompanhei a problemática da demarcação de algumas áreas aqui próximas, na região da Serra da Lua. Entre outros, veio um técnico da Funai de Brasília que fez uma chantagem com algumas aldeias. Disse que a demarcação seria em área menor ou a pretensão de mais área não seria conseguida. Não aceitamos que um crime como este seja sacramentado. Se há erros, eles devem ser corrigidos".
Zacquini defende que, desde o começo, as autoridades deveriam ter consciência de que os índios são povos com direitos como os outros, e têm ainda direitos especiais reconhecidos na Constituição.
"Por que não aceitar a demarcação, para depois partir para a cooperação onde índios, indigenistas, igreja e demais segmentos lutem juntos para fazer crescer este Estado, com trabalho e justiça para todos? Isso daria mais frutos do que esta briga contínua das autoridades que gastam fortunas para defender invasores de terras indígenas. Sabemos que alguns invadiram estas áreas de boa-fé e estes têm direitos que devem ser respeitados e a Pastoral Indigenista não se nega a isso, mas vamos fazer as coisas da forma certa, dentro da lei".
FUGIRAM - Sobre a coincidência de extensas áreas indígenas exatamente na fronteira internacional, Carlos Zacquini argumenta que aos índios só foi possível sobreviver nas regiões de difícil acesso, o que foi a salvação para a maioria deles.
"Os que estavam na calha do rio Branco foram extintos, muitos raptados e levados nas chamadas descidas para Manaus ou Belém e nunca mais voltaram. Outros morreram por causa das epidemias, mesmo que involuntárias, trazidas pelos invasores, conquistadores - podem usar o termo que quiserem - e outros espantados e afastados pela força. Por isso, sobraram os índios localizados nas regiões mais difíceis, aquelas na faixa de fronteira. Como não foram eles que demarcaram a fronteira, muitos destes povos moram em dois países diferentes. Isso não foi uma coisa planejada por alguém", declarou Zacquini.
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