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Índios fazem protesto contra falta de recursos

Diário de Cuiabá-MT
Autor: Carla Pimentel
10 de Jan de 2002

Xavantes da reserva Sangradouro mantiveram a rodovia BR-70 interditada por mais de quatro horas ontem, em protesto contra a falta de recursos da Fundação Nacional do Índio (Funai). O bloqueio aconteceu no km 220, nas proximidades de Primavera do Leste (a 239 km de Cuiabá). Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o protesto foi tranqüilo e organizado, mas poderá repetir-se em duas semanas - e, desta vez, por tempo indeterminado - caso o governo federal não atenda às reivindicações dos indígenas.

O inspetor Antônio César de Oliveira Pinto Filho, da PRF, descreve que cerca de 100 índios pintados para guerra permaneceram na rodovia das 9 horas às 13h30, gerando um congestionamento de cerca de 3 quilômetros para cada lado da rodovia. Um dos pontos destacados tanto pela polícia quanto pela administração executiva da Funai em Primavera do Leste, foi a organização do grupo. Metade dos participantes do bloqueio mantiveram-se ao longo das margens da pista, avisando aos motoristas sobre a interrupção e explicando os motivos que os levaram a tomar a iniciativa.

Ao fim do protesto, os xavantes avisaram: caso o governo federal não atenda às suas reivindicações, nova interdição será realizada em quinze dias, que permanecerá enquanto não houver uma solução para seus problemas. Segundo o inspetor César Pinto, o aviso foi dado à imprensa, presente ao local a pedido dos próprios índios - que vivem na aldeia Dom Bosco, entre os municípios de Poxoréo e General Carneiro.

O administrador regional da Funai em Primavera do Leste, Edilson José de Figueiredo, enviou ainda ontem um relatório à presidência do órgão, em Brasília, descrevendo o bloqueio e pedindo providências. Ele explica que a falta de recursos engessou os atendimentos realizados pela Fundação.

O caos financeiro foi gerado pela falta de repasse do crédito suplementar pelo governo federal. Segundo Edilson Figueiredo, os recursos vinham sendo reivindicados desde agosto do ano passado, e foram aprovados pela União em dezembro. No entanto, apenas as verbas orçamentárias chegaram às administrações regionais, inviabilizando a condução das atividades da Funai em vários pontos do país.

Figueiredo não fala em cifras, mas garante que o rombo é grande. Não há recursos para realizar atendimentos básicos, que vão desde a manutenção de veículos e compra de combustível até a aquisição de insumos para o plantio de arroz. "A lavoura já está atrasada", alerta o administrador. Além de impedida de comprar, a Funai também está às voltas com dívidas junto ao comércio local, que já começa a pressionar o órgão. "Neste momento em que falo ao telefone, estou segurando nas mãos cerca de uma centena de empenhos que precisam ser pagos", descreve Figueiredo.

A aprovação do crédito suplementar pelo governo federal gerou expectativa junto aos índios e funcionários da Funai, mas não há qualquer previsão de liberação de recursos. Edilson Figueiredo explica que, geralmente, o dinheiro segue logo depois da aprovação federal. Ele também destaca que a situação está insustentável não apenas em Primavera do Leste, mas em muitas administrações regionais: "Não há como comprar sementes, adubo, gasolina e assim por diante. Os índios estão sem assistência alguma. Se administrar a Funai com dinheiro em caixa já é uma tarefa difícil, imagine sem", reclama.

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