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Índios fazem dirigente da Funasa refém no Pará

OESP, Nacional, p. A10
03 de Fev de 2006

Índios fazem dirigente da Funasa refém no Pará
160 membros de várias tribos denunciam superlotação, falta de remédios e higiene precária na Casa do Índio

Carlos Mendes

O coordenador substituto da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no Pará, Raimundo Nonato Veríssimo, foi feito refém ontem de 160 índios de várias tribos que protestam contra as péssimas condições da Casa do Índio, em Icoaraci, na região metropolitana de Belém. Veríssimo foi ao prédio de manhã para saber suas reivindicações. No meio da reunião, foi impedido de deixar a sala. "Pensei que o senhor fosse o chefe da Funasa, mas não manda nada. Então, ficará aqui até amanhã. E só sairá quando o verdadeiro chefe parar de mentir e vier aqui falar conosco", disse-lhe um índio da tribo mundurucu.
Outros índios, bastante agitados, deram a reunião por encerrada e puseram os assessores de Veríssimo para fora do prédio. "Vocês enganam os índios", gritou o cacique João Tembé.
O coordenador Parsifal Pontes, que fora a Brasília para reunir-se com a presidência da Funasa, tentou acalmar seu substituto pelo celular, mas não teve sucesso. "Estou aqui, nas mãos deles, e só vou sair quando você retornar a Belém", contou Veríssimo, nervoso, pedindo-lhe que antecipasse sua volta.
O cacique Raimundo Tembé pegou o celular e avisou Pontes: "O seu substituto ficará sem comer nada até amanhã. Ele só pode tomar água." O coordenador tentou argumentar e pediu que Tembé lesse as reivindicações. Mas o cacique recusou.
Na Casa do Índio, com capacidade para abrigar no máximo 80 pessoas, estão hospedados índios gavião, mundurucu, wai-wai, xororo, surini, arara, xipaia e tembé. Muitos chegam a Belém com doenças em estado avançado. Um fogão velho serve para cozinhar comida para todos. As salas e o refeitório estão cheios de moscas. Os índios reclamam que não há remédios para os doentes nem local para sentar ou dormir.
Segundo eles, a situação está piorando porque todos os dias chegam mais doentes sem lugar para ficar. "A casa está com o dobro da lotação e há uma lista de espera nas aldeias", desabafou o coordenador da Casa do Índio, Coracy Apalahy Lima.
Com os quartos superlotados, crianças, adultos e idosos, alguns com doenças contagiosas, dormem nos corredores em colchonetes e colchões, sem nenhuma atenção especial, mesmo para os que apresentam sinais de debilidade física. Ontem, uma índia morreu de câncer.
Morador da aldeia Aukre no sul do Pará, Elias Kaiapó está em Belém para acompanhar o filho de 10 anos, que quebrou a perna. Os dois dormem em colchões sem lençóis e mosquiteiro. "A gente passa a noite no calor e sendo picado por muriçoca. Meu filho não pode se virar, então sofre mais", contou.

OESP, 03/02/2006, Nacional, p. A10

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