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Índios fazem corrida de toras na Esplanada

CB, Cidades, p. 30
24 de Nov de 2006

Índios fazem corrida de toras na Esplanada

Pablo Rebello
Da Equipe do Correio

Se correr com os pés descalços, no asfalto, debaixo de um sol escaldante já é difícil, imagine fazer isso com uma tora de madeira de 100kg nas costas. Essa foi a cena que motoristas viram ao passar ontem pela manhã na Esplanada dos Ministérios. O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran/DF) interditou três faixas do Eixo Monumental para a realização da corrida de toras, entre índios Xavantes e Timbiras. A competição deu início ao V Encontro dos Povos do Cerrado, que até domingo discute questões referentes aos problemas ambientais causados pelo desmatamento e poluição do cerrado.

A largada foi dada às 9h45. Duas equipes participaram da corrida de toras. Os Xavantes, de calções pretos, e os Timbiras, de calções vermelhos. Cada equipe contava com seis corredores que fizeram um percurso de aproximadamente 2km da Catedral até a rampa do Congresso Nacional. A corrida foi realizada em esquema de revezamento. As toras foram carregadas nas costas dos corredores, que as passavam para um colega no momento em que se cansavam. Os Xavantes, que deixaram a tora cair duas vezes e perderam a competição para os Timbiras, que só largaram o tronco uma vez. As duas equipes conseguiram concluir o percurso em aproximadamente seis minutos. Essa foi a segunda corrida de toras realizada em Brasília. A primeira ocorreu em 2004, durante a mobilização social Grito do Cerrado.

A corrida é um rito tradicional, mistura de festa com esporte. Pode ser entendida também como um ritual de fertilidade ou para espantar maus espíritos. Mas ontem foi realizada para chamar a atenção das autoridades para as dificuldades dos povos indígenas que vivem no cerrado.

Após a corrida, os índios visitaram o Congresso e fizeram cobranças: "Queremos pedir que não se avance mais dentro de territórios indígenas. Não se construam hidrelétricas e usinas em rios que atendam nossos povos. Não se construam pistas que atravessem nossas terras e não poluam nossos rios.", explicou o Xavante Hiparidi Toptiro. E acrescentou: "Nossos interesses nunca são atendidos". As reivindicações apresentadas pelos índios fazem parte da base para realização do V Encontro dos Povos do Cerrado. A programação do evento envolve mesas redondas, debates, feiras e apresentações culturais e será encerrada no domingo.

Xavantes e Timbiras

O povo Xavante se autodenomina A\'wê Uptabi, que significa "povo verdadeiro". Vive em uma região de cerrado entre os estados de Mato Grosso e Goiás. São cerca de 9 mil pessoas em 55 aldeias de sete reservas diferentes: Rio das Mortes, Couto Magalhães, Marechal Rondon, Areões, São Marcos, Sangradouro e Parabuburi. A língua deles leva o nome de Auwe e Akwe e está classificada no tronco Jê. A poluição dos rios e o desmatamento degradam o solo e afetam a vida da aldeia.

O termo Timbira é usado para designar um conjunto de povos: Apanyekrá, Apinayé, Canela, Gavião do Oeste, Krahó, Krinkatí e Pukobyê. Os grupos estão no Maranhão, Pará e Tocantins em áreas de cerrado e cortadas por cursos d'água ao longo de matas ciliares. Falam uma só língua, a timbira, que também está classificada no tronco Jê, embora existam diferenças dialetais entre os povos. (PR)

Programação do V Encontro

Sexta-feira
Grito do Cerrado: mobilização popular pela preservação do cerrado. A partir das 14h no canteiro central da Esplanada dos Ministérios, próximo ao Bloco A.

Mostra e feira de produtos e experiências sustentáveis do cerrado com apresentações culturais, como danças e músicas tradicionais. De 18h às 22h, nos estandes próximos à Torre de TV.

Sábado
Mesas redondas com discussões sobre programas sustentáveis e governamentais. A partir das 8h30, no Torre Palace Hotel, na quadra 4 do Setor Hoteleiro Norte.

Mostra e feira de produtos e experiências sustentáveis do cerrado com diversas apresentações culturais, incluindo cantorias e danças dos Timbiras e Xavantes. Das 10h às 22h, na Torre de TV.

Domingo
Mostra e feira de produtos e experiências sustentáveis do cerrado com apresentações culturais, inclusive com peças teatrais e poesias. Das 10h às 18h, em frente à Torre de TV.

CB, 24/11/2006, Cidades, p. 30

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