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Índios estudam em escola improvisada

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/
Autor: Ozieli Ferreira
02 de Mar de 2012

São em salas de aulas improvisadas que os 199 alunos de 1ª a 8ª série estudam na comunidade Serra do Sol, no Município do Uiramutã, norte do Estado. A escola estadual indígena Joaquim Jones José Ingarikó está em fase de construção. Até agora só foram feitas a estrutura do prédio e o telhado. Segundo os professores da região, a unidade está sendo construída com recursos dos próprios professores.

A professora Célia Miguel Alencar, que leciona as matérias Língua Materna (Ingarikó) e Geografia, disse que a dificuldade de chegar até a região é um dos motivos para o atraso da construção do prédio. O segundo é a falta de recursos. "Os professores estão tirando do próprio bolso para comprar material para construção da escola", disse. A região dos Ingarikó é de difícil acesso. Para chegar até a comunidade só é possível por via aérea. De Boa Vista até a comunidade Serra do Sol, em linha reta, são percorridos 240 quilômetros, o que dá 1h15 de voo.

Durante a entrevista, a professora estava escrevendo um ofício para a Fundação Nacional do Índio (Funai) solicitando combustível para utilizarem a motosserra para cortarem madeira e dá continuidades às obras da escola. "Nossos alunos são empenhados, curiosos, eles gostam de estudar. Mas, para isso, precisamos proporcionar um ambiente confortável a eles", destacou.

Outra reclamação dos professores e alunos é a falta de material escolar, pois as aulas começaram no dia 06 de fevereiro e até o momento ainda não receberam o material. Segundo a professora, muitos alunos, para participarem das aulas, recebem folhas de papel A4. "Alguns pais conseguiram comprar caderno e lápis para seus filhos, mas é uma minoria. Os demais alunos recebem folhas A4 para não perderem as atividades", explicou.

Secretaria diz que empresas desistem de obras na aldeia por causa da distância

A assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Desportos (Secd) informou que a escola estadual indígena Joaquim Jones José Ingaricó está inserida no Plano de Ações Articuladas (PAR), do governo federal, com contrapartida do Governo do Estado, do ano de 2013, para construção do prédio da unidade, que hoje funciona de forma improvisada no malocão da comunidade.

Por se tratar de área de difícil acesso, aonde só se chega por via aérea, os empresários que ganham esse tipo de licitação na maioria das vezes desistem da obra, o que gera maior demora na conclusão da construção.

Sobre a implantação do ensino médio na referida unidade escolar, ela disse que não há solicitação oficial da comunidade, contudo a Secd vai analisar a possibilidade e ofertar a formação para os professores da própria unidade para que a modalidade seja incluída. Hoje a escola funciona apenas com ensino fundamental.

Quanto ao material e fardamento escolares, a secretaria informou que está percorrendo todas as comunidades indígenas - já foram visitadas mais de 87 unidades de ensino. "A escola estadual indígena Joaquim Jones José Ingaricó será contemplada em igual forma, dentro em breve".

Estudantes querem ser professor para poder ajudar a comunidade

O estudante Denilson Alencar de Souza, de 13 anos, cursa a 8ª série. Ele disse que quando concluir o estudo quer ser professor. Conforme relatos dos professores, o menino é um aluno dedicado e sempre tira boas notas. "Minha matéria favorita é Matemática", disse Denilson.

Assim como ele, Edinaira Simão Barbosa, de 14 anos, que cursa a 7ª série, também quer ser professora. O motivo para a escolha da profissão para os dois alunos é o mesmo: ajudar a comunidade por meio da educação. A professora Célia Miguel disse que a escola recebeu um computador da Universidade Virtual de Roraima (Univirr), mas por falta de energia elétrica na região o aparelho nunca foi usado.

Além das atividades escolares, os alunos fazem artesanato, como cintos, bolsas, cestas e chapéus. O material usado para confecção das peças é a fibra do buriti. O dinheiro arrecadado com a venda das peças é destinado para a manutenção da escola.

Comunidade Serra do Sol é isolada na tríplice fronteira

A Serra do Sol é uma das nove comunidades que abrigam o povo Ingarikó. Devido ao difícil acesso para essa região, os serviços básicos, como educação, saúde e infraestrutura, são precários. Conforme o tuxaua Roziel José, está prevista a implantação do ensino médio para atender as comunidades. Ao todo, há quatro escolas na região dos Ingarikó, com 22 professores.

As nove comunidades que abrigam os índios Ingarikó são: Serra do Sol, Mapaé, Awendei, Sauparu, Kumaipá, Pipi, Manalai, Paraná e Área Única. A comunidade Serra do Sol, localizada entre serras entrecortadas por pequenas matas, é próxima dos encachoeirados rios Anareng e Cotingo, na região que culmina no Monte Roraima, na fronteira entre o Brasil, a Venezuela e a Guiana. A denominação Ingarikó é de origem Macuxi, que quer dizer "Gente da mata espessa".

As 75 famílias que moram na Serra do Sol vivem da caça, da pesca e da agricultura de subsistência, com plantação de mandioca, milho e batata. Quando há manifestações festivas na comunidade, a comida é feita em maior quantidade e distribuída para todos. A bebida que mais utilizam é o caxiri (bebida alcoólica fermentada feita de mandioca).

Devido à localização, os Ingarikó quase não têm contato com os brancos. As regiões são mais visitadas por agentes que trabalham na área de saúde indígena. Na comunidade existe um posto de saúde com um agente sempre disponível para atender a população.

Conforme o tuxaua, com as ações intensivas dos agentes de saúde que fazem mutirão na região para realizar exame de malária e outros procedimentos, o índice de malária, doença mais comum entres eles, diminuiu de forma significativa. "Nessas ações, os agentes dão orientação para a população sobre os cuidados básicos em relação à saúde", disse.

Os moradores da Serra do Sol contam com água encanada, mas não possuem energia elétrica. Segundo o tuxaua, há um gerador que distribui energia elétrica na região, mas é pouco utilizado, pois constantemente apresenta problemas. "Nesta semana não utilizamos o gerador porque está com uma peça queimada", disse, ao citar que a maior dificuldade da população é com relação ao isolamento.

"Se tivesse uma estrada para facilitar nosso acesso para outras regiões, ficaria bem melhor. Aqui temos um telefone público e um rádio para nos comunicar", acrescentou. O tuxaua explicou que para chegar ao Uiramutã, gastam-se dois dias de viagem indo a pé.

ttp://www.folhabv.com.br/noticia.php?id=125224

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