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Índios estão sendo vítimas de estelionato no Tocantins

Ambiente Brasil -Brasília-DF
Autor: Mônica Pinto
16 de Set de 2005

A notória vocação de alguns brasileiros em fazer dinheiro aproveitando-se da ingenuidade alheia está em pleno vigor no estado do Tocantins, especialmente na região de Goiatins, a 380 Km de Palmas. Lá, o procurador da República Adrian Ziemba, que cuida das questões referentes aos índios Krahô e Apinajé, começou a enfrentar uma prática criminosa, chegando ao que talvez seja apenas a ponta de um iceberg.

No dia 09 passado, a Polícia Federal apreendeu cartões magnéticos de benefícios previdenciários e conta-corrente, documentos pessoais, como Carteira de Trabalho, carteira de identidade, CPF e título de eleitor, de índios da etnia Krahô, que encontravam-se em poder do dono de um supermercado em Goiatins.

O pedido feito pelo procurador Ziemba à Justiça Federal, que expediu o mandado de busca e apreensão, foi motivado por denúncias dos próprios índios, segundo as quais o comerciante vendia mercadorias de seu supermercado e emitia "vales", exigindo como garantia de recebimento a posse dos cartões magnéticos dos devedores. Ele conseguia obter inclusive procurações para sacar dinheiro das contas bancárias dessas vítimas.

A operação foi executada sob comando da delegada Dominique de Castro Oliveira e apreendeu ainda extratos bancários, contratos de empréstimos de crédito consignado e outros documentos. Ao todo, foram pelo menos 40 índios lesados.

Ainda de acordo com as denúncias feitas ao MPF, o comerciante teria realizado empréstimos no Banco Postal em nome dos índios e outros aposentados, cobrando desses taxas e mantendo-os num círculo de dívida eterna, uma vez que o valor devido era sempre superior ao valor real da dívida. Acusaram-no ainda de cobrar a mesma dívida duas vezes e de ludibriar os aposentados, fazendo-os assinar contrato de empréstimo bancário, sem saberem do que se tratava.

O procurador Adrian Ziemba vai abrir um inquérito policial para apurar a extensão do crime - quem são os envolvidos nesse esquema de fraude, o grau de envolvimento de cada um e a dívida de cada um dos lesados. O dono do supermercado, que comandava as falcatruas, pode responder por estelionato e apropriação indébita, estando sujeito a pena que varia de um a cinco anos.

O mais preocupante, porém, é que não trata-se de um caso isolado. Ziemba já tem conhecimento de que essa prática é comum em outras aldeias e pretende levar a investigação adiante. Ontem, durante uma reunião com a etnia Xerente, surgiu a denúncia de que um comerciante da cidade de Tocantínia age da mesma forma.

Hoje, sexta-feira, os cartões serão devolvidos na reserva indígena Kraholândia, em Goiatins, pelo procurador. Ele aproveitará o encontro para explicar que a prática de receber cartões como garantia de vendas fiadas é crime. Antecipa também que vai estimular os índios a fazer compras com o próprio dinheiro. O problema é que muitos têm altas dívidas por causa dos empréstimos feitos no Banco Postal e, à semelhança do que ocorre com tantas pessoas, de todas as raças e credos, a bola de neve continua a crescer.

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