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Índios esperam diálogo com coordenador

Folha de Boa Vista Online - http://www.folhabv.com.br
Autor: Vanessa Targino
08 de Ago de 2011

O anúncio da nomeação do jornalista André Vasconcelos para ocupar a coordenação da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Roraima, publicada na semana passada no Diário Oficial da União (DOU), pegou de surpresa as lideranças indígenas. A posse do coordenador deverá ocorrer ainda hoje, às 15h. O cargo era ocupado por Gonçalo Teixeira, que ficou oito anos à frente da Funai.

As lideranças indígenas esperam abertura de diálogo com o novo coordenador, mas afirmam que não foram consultadas sobre a escolha, pois queriam opinar e até apontar alguns nomes de indígenas para ocupar o cargo.

O atual presidente da Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiurr), Lupedro Alves Moraes, declarou que não conhece André Vasconcelos nem poderia avaliar o seu trabalho. Para ele, quem ocupar o cargo de coordenador da Funai deve ter sensibilidade para analisar os problemas da sociedade indígena.

"Nunca acompanhei o seu trabalho. Mas, quem assumir essa função acredito que tenha sensibilidade de analisar e ver a sociedade indígena. Com essa visão, nós poderemos, como sociedade civil, ganhar com isso. Também creio que ele vá fazer um trabalho voltado para a sociedade indígena e não voltado para determinadas organizações indígenas, e com isso ter um bom relacionamento institucional", ponderou.

Lupedro comentou ainda que o coordenador deva olhar para a sociedade indígena, pois os índios consideram a Funai como um órgão parceiro. "Na condição do novo presidente da Sodiur, não tenho esse profundo conhecimento da Funai. Hoje, temos uma nova visão e concepção que a Funai pode melhorar o relacionamento, que foi muito criticado. Porém, a gente sempre observou que não é apenas a cobrança que vai resolver os problemas, e sim cada um fazendo a sua parte, não só a Funai, mas todos os envolvidos", ponderou.

Quanto à ligação do novo coordenador da Funai ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ter ocupado as funções de assessor de comunicação do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Moraes comentou que essas ligações não devem interferir nas funções no órgão federal.

"Acredito que não. O coordenador, tendo um olhar institucional, não haverá nenhum tipo de problemas ou impasse de entendimento nesse sentido. Se chegar a ter, iremos conversar para encontrar um entendimento", disse, ao comentar que, após reunião com o novo coordenador, poderá avaliar melhor. "Depois de conhecer o seu perfil, poderia tirar mais conclusões sobre o seu trabalho".

Para ele, os índios deveriam ter sido consultados sobre quem assumiria o cargo e reclamou que a consulta não ocorreu na sua maioria, onde as comunidades também poderiam indicar índios graduados para tal cargo, que sempre foi ocupado por indicação política.

"O importante seria ter consultado todas as comunidades. Até porque a Funai não vai atender determinadas comunidades e organizações indígenas, e sim a todas e de uma forma geral. Essa consulta seria um bom momento para que se possa pensar num perfil mais aproximado com o nosso povo. Existem pessoas graduadas e preparadas em várias áreas do conhecimento que têm condições de estar assumindo qualquer cargo para trabalhar em prol da sociedade indígena", destacou Lupedro.

Moraes garantiu que a nova direção da Sodiurr vai se reunir com o coordenador para saber suas concepções. "Assim iremos conhecer o seu ponto de vista e a sua forma de trabalhar com as organizações indígenas. Depois vamos sentar com os associados da Sodiurr e repassar todas as informações sobre André Vasconcelos", destacou.

Já Sílvio da Silva, ex-presidente da Sodiur, manifestou preocupação com o tratamento que sua entidade pode receber da Funai, tendo em vista que Vasconcelos já pertenceu aos quadros do CIR. Destacou, no entanto, que, caso seja necessário, vai reunir os indígenas para debater a questão. "Não vamos aceitar que escute apenas um lado e esqueça a outra parte dos índios".

O líder indígena também criticou a Funai em Brasília, que não consultou os índios para realizar tal troca. "O órgão em Brasília deve aprender a respeitar os índios e deveriam ter reunido todas as comunidades para consultar sobre essa mudança. Tem que haver um mínimo de respeito, até porque temos índios formados que poderiam assumir o cargo. Agora pega todos de surpresa com essa mudança. A Funai Brasília está brincando com a cara dos indígenas", reclamou.

Durante o final de semana, a Folha entrou em contato com o CIR e com a Hutukara Associação Yanomami, mas não localizou seus dirigentes.

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