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Índios escrevem a própria história

Correio da Bahia-Salvador-BA
Autor: Marcos Vita
03 de Ago de 2001

O índio visto por ele mesmo, sem a mediação de antropólogos, exploradores ou desbravadores. O índio que é dono de sua própria história. É a isso que se propõe a série de quatro livros Índios na visão dos índios, publicação pioneira no país lançada em Salvador. Os livros, escritos e ilustrados por integrantes de quatro tribos nordestinas, têm o objetivo de chegar às escolas e universidades para retratar de forma fidedigna a realidade atual do povo indígena. O dinheiro das vendas será revertido para as tribos, que reúnem juntas cerca de 20 mil índios.Durante cinco dias, valendo-se de câmeras fotográficas, gravadores, papel e caneta, eles escreveram suas impressões sobre a vida e a cultura indígena e sobre as dificuldades por que passam no Brasil desde 1500, quando os portugueses chegaram ao país. As tribos participantes do projeto foram Kariri-Xocó (AL), Tumbalala (BA), Pankararu e Fulni-ô (ambas de Pernambuco). Em comum, elas sofrem com a aculturação, a ação de posseiros de terra e más condições de habitação e trabalho. Os índios vivem, sobretudo, da agricultura de subsistência e da venda de artesanato."Esperamos que cada livro seja uma semente na cabeça do leitor de forma a despertar a consciência da realidade indígena atual e o fim do preconceito", afirma o guerreiro Lymbo Perigipe, 24 anos, da tribo Kariri-Xocó, um dos muitos autores da obra. A idéia de reunir as impressões indígenas na coleção partiu do historiador argentino Sebastián Gerlic, 31 anos. "Os livros surgem para resgatar a identidade cultural indígena e estimular um conhecimento maior das pessoas sobre a realidade dos índios", diz Gerlic.Segundo a pedagoga Márcia Cardim, produtora da obra, a coleção preenche um vácuo de publicações didáticas que tratam a questão indígena de forma séria no país. "Nos livros didáticos adotados pela maioria das escolas brasileiras, o índio ainda aparece estereotipado, de tanga, e vive como em 1500", afirma. "Na verdade, o que a obra vem mostrar é o quanto temos que aprender com eles", completa Cardim. A intenção agora, segundo ela, é ampliar o trabalho para outras tribos do país.O critério de seleção das tribos foi a representação na ONG Águia Dourada de Defesa dos Direitos Indígenas, que apoiou a publicação. A coleção conta com o apoio também do Fazcultura, da Gráfica Santa Helena e do Hiper Bompreço. Está concorrendo a um prêmio da Fundação Banco do Brasil para o estímulo à educação. Os livros foram lançados anteontem e estão sendo vendidos por R$15 cada, nas lojas do Bompreço, e R$12 (preço promocional de lançamento) nas livrarias Siciliano de Salvador. A princípio, foram feitas 12 mil cópias por volume. Mais informações podem ser obtidas no site www.visaodosindios.hpg.com.br.

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