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Índios elaboram livro de saúde na Amazônia

Saúde sem Limites
11 de Jul de 2001

O Antropólogo Renato Athias e as equipes da ONG Saúde Sem Limites em parceria com o CERCI - Centro de Estudos e Revitalização da Cultura Indígena - estão realizando os encontros de Pajés em Iauareté, no município de São Gabriel da Cachoeira que faz a divisa do Brasil com a Colômbia na Amazônia.
O objetivo desses "Encontros de Medicina Tradicional", tem duas propostas básicas: revitalização cultural da Bacia do Uaupés e promoção da interação entre as ações da medicina indígena e a medicina ocidental.
"É uma nova maneira de se pensar a história dos Índios", explica Athias. Desde a colonização os missionários proibiram aos índios as formas de cura tradicionais, eles tiveram que renunciar a hábitos tradicionais milenares, de suas técnicas terapêuticas. A medicina indígena ainda é praticada por muitos pajés, benzedores e cantadores dessa região. Esses encontros possibilitam um maior entendimento entre os dois sistemas médicos, o indígena e o ocidental. O coordenadores indígenas do CERCI dizem que é preciso levar aos jovens - hoje totalmente influenciados por um sistema contrário à própria cultura - os valores dos seus antepassados, da sua identidade.
Os profissionais da SSL, enfermeiros, dentistas, médicos, técnicos de enfermagem estão muito satisfeitos com o projeto. Marina Machado, coordenadora executiva da SSL conta que em 2000 houve um surto de diarréia, durante o qual morreram dez crianças. Na ocasião os pajés e rezadores tiveram participação fundamental no controle do evento, esclarecendo à população que a diarréia não era "sopro" – uma categoria de doença tradicional e que julgam não ter cura – e por isso, se mostravam reticentes em procurar a assistência prestada pelos profissionais da Saúde Sem Limites. Ela acredita que essa troca de saberes irá favorecer a condição de saúde desses povos.
O Encontro de Iauareté reuniu, as lideranças indígenas, Kumus e Pajés. O índio tem receio de que os brancos desconsiderem os métodos de cura tradicional, por outro lado os profissionais de saúde querem saber se um paciente que está sendo tratado pelo Kumu pode receber medicação do branco e como proceder nos mais diversos casos. Dúvidas que foram debatidas e estabeleceu-se uma nova relação social de trabalho naquela região que beneficiará a todos.
"Nossos antepassados conheciam os medicamentos, com o enfraquecimento da cultura ficou atrapalhado e muitas doenças tidas como diabólicas. Nós acreditamos que houve um choque cultural, nossos jovens rejeitam a própria cultura e não respeitam os mais velhos. Hoje, há muito egoísmo. Não transmitir o conhecimento para as novas gerações é um deles. As pessoas só se preocupam com a sua própria família, não compartilham mais, tudo muito diferente dos valores ensinados por nossos antepassados", queixa-se o Kumu, Sr. Guilherme Maia, Tukano.

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