VOLTAR

Índios disputam terras na Justiça

A Tarde-Salvador-BA
Autor: Antonio Alberghini
28 de Nov de 2003

Pataxós estão organizados e vão tentar derrubar a liminar que os obrigou a desocupar três propriedades em Porto Seguro

Os índios pataxós de Coroa
Vermelha desocuparam ontem, por determinação da Justiça Federal de
Ilhéus, três das nove propriedades rurais da região do Córrego
Itinga, em Porto Seguro, antes mesmo da chegada da polícia. A liminar
de reintegração de posse, concedida pelo juiz federal da Vara Única
de Ilhéus, Pedro Alberto Calmon Holliday, em favor dos produtores
rurais José Lito de Santana, Oduvaldo Souza e Antônio Pellegrini, foi
acatada de maneira pacífica pelos pataxós, que irão recorrer da
decisão judicial. "Obedecemos à lei, mas tentaremos derrubar a
liminar na Justiça", informou o cacique Carajá. As lideranças
indígenas viajam para Brasília neste domingo para encontrar o
presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, para discutir a demarcação
da área.

A área, com cerca de 400 hectares, próxima à orla norte de Porto
Seguro, foi ocupada pelos pataxós no dia 1o de junho deste ano,
quando os produtores rurais foram obrigados, pelos índios, a deixar
suas casas e propriedades. A decisão judicial foi concedida em favor
dos produtores Antônio Pellegrini, dono da Fazenda Córrego São Bento,
e José Lito de Santana, da Fazenda São Benedito, além da propriedade
de Oduvaldo Souza. Alguns produtores ainda estão aguardando, outros
não tiveram condições financeiras para pagar advogado e outros
simplesmente não agüentaram e foram embora.

ENFRENTAMENTO - Os índios pataxós afirmam que, mesmo acatando a
liminar, não vão recuar. "Obedecemos a lei, mas esta terra sempre foi
indígena e não vamos desistir, tentaremos derrubar a liminar e
esperamos a formação do Grupo Técnico da Funai, que só depende da
contratação dos profissionais, para a demarcação da área", informou o
cacique de Coroa Vermelha, Carajá. "Hoje temos uma área demarcada de
apenas 1.700 hectares, ocupada por mais de quatro mil índios. Eu
nasci e me criei aqui, esta região sempre foi terra de índio",
acrescentou a índia Adertrude de Jesus. "Na Jaqueira ficava o Zé da
Praia e nesta fazenda mesmo morava Maria d'Ajuda, uma cabocla com os
cabelos que batiam abaixo do joelho".

Os pataxós, ao receberem a notícia do cumprimento da liminar de
reintegração de posse, pela Polícia Federal, afirmaram que não
queriam confronto. "Já desocupamos as propriedades de Lito e de Dudu,
não queremos o confronto", declarou o índio Calango,
acrescentando: "Só queremos o direito de trabalhar. Em Coroa
Vermelha, o índio trabalha dos 5 aos 75 anos e o pouco que tem foi
conquistado com sacrifício".

Por volta do meio-dia os pataxós receberam a notícia do representante
da Funai de que a reintegração de posse foi concedida também para a
Fazenda São Bento e começaram a organizar a retirada de seus
pertences.

Nestes meses de ocupação os pataxós chegaram a construir barracas e
casas de taipa. As crianças correndo e brincando e alguns guerreiros
pintando o rosto com as cores do carvão e do urucum, enquanto as
mulheres cuidavam dos afazeres domésticos, este era o cenário na
Fazenda Córrego São Bento antes da desocupação.

Os índios formaram roças e plantaram feijão e mandioca no local. "Já
colhemos umas sacas de feijão, enquanto os fazendeiros só retiraram
areia e barro, devastando tudo", contou um índio que não quis se
identificar, acrescentando: "Enfrentamos muita dificuldade, já que
precisamos buscar a água nas costas a mais de um quilômetro daqui".

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.