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Índios denunciam novos abusos de comerciantes (AC)

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Renata Brasileiro
02 de Jun de 2004

Com os cartões apreendidos pela PF, comerciantes agora sacam dinheiro deles por meio de procuração

No último 19 de abril, a Superintendência da Polícia Federal no Acre pôs fim a uma prática criminosa de alguns comerciantes do município de Sena Madureira. Eles mantinham em mãos os cartões de benefício de índios que foram aposentados pelo governo federal. O cartão, que dá direito a um salário mínimo por mês, tinha a quantia toda sacada pelos comerciantes, que possuíam acesso livre à senha dos verdadeiros donos.

Com a prática descoberta, policiais federais apreenderam todos os cartões, segundo a delegada da PF, Sandra Cegielka. Os Comerciantes, por sua vez, alegaram que essa seria a única garantia que tinham, uma vez que os índios faziam compras em seus estabelecimentos, e passavam mais de dois meses sem aparecer para pagar a dívida. "Mas eles continuam abusando dos índios", denunciou o chefe do posto indígena da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Sena Madureira, Raimundo Nonato Kaxinawá. Segundo ele, quando a PF tomou todos os cartões, os índios passaram a ter acesso ao auxílio mensal através de uma procuração. Porém, sob as ameaças de comerciantes de não poderem mais comprar nos mercantis do município, tiveram de passar a procuração para o nome dos infratores. "Não adiantou nada retirarem os cartões. Os comerciantes continuam cometendo o crime", comentou o chefe do posto indígena. Ele ressaltou que o abuso é cometido contra as etnias Kaxinawá, Jaminawá, Kolina e Manchineri, nas quais sobrevivem aproximadamente dois mil índios. Desse montante, 40% são aposentados pelo governo federal.
Trapaças - Humberto Sebastião, da etnia Manchineri, disse que sua mãe é uma das beneficiadas com o cartão. Ao contrário dos demais índios da zona rural, ela nunca deixou o documento à mercê de um comerciante, entretanto, os comerciantes insistem em tirar proveito de seu salário. "Eles vendem tudo ao dobro do preço para minha mãe porque sabem que ela recebe um salário por mês. Mas ela só compra porque não há outro jeito", reclamou o Manchineri.

Humberto confirmou o fato de os índios passarem até dois meses para retornar ao comércio depois que fazem as compras que precisam. Mas segundo ele, a pouca freqüência se dá por causa da distância das aldeias das tribos para o município de Sena. "A gente gasta de oito a nove dias atravessando de canoa para chegar até aqui. Por isso que passamos muito tempo sem aparecer na cidade. A distância é que dificulta", explicou.

Providências - Segundo a delegada, a Funai precisa se infiltrar neste caso como conscientizadora dos índios que estão sofrendo o abuso. Ela explicou que a PF fez o seu papel ao apreender os cartões que estavam sendo indevidamente utilizados, porém, não pode interferir na transferência da procuração que os índios fazem para os comerciantes. "Infelizmente não podemos fazer nada nesse caso. Cabe a Funai orientar os índios para que eles não se submetam a essa ameaça de perderem a ligação com os comerciantes, caso não entreguem a procuração de saque do auxílio mensal nas mãos deles", frisou a delegada. Ela completou que ainda ontem, os cartões apreendidos foram devolvidos para a Funai, após uma orientação judicial. O que será feito dos cartões é mais uma decisão a ser tomada pela fundação, segundo ela.

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