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Índios denunciam desvio de dinheiro em Paulo Afonso

A Tarde
17 de Nov de 2007

Cobrando a exoneração do administrador João Vasconcelos Valadares da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Paulo Afonso (a 469 km de Salvador) cerca de 90 índios das tribos Kiriri, Kaimbé e Cantaruré ocupam desde a última quartafeira a sede do órgão no município.

Eles querem que a Funai nomeie imediatamente um substituto para a vaga ocupada por Valadares há mais de dez anos.

Os índios acusam o administrador de desviar recursos destinados à área agrícola das aldeias. Eles dizem que já conseguiram descobrir os desfalques ocorridos em 2007, mas acreditam que o desvio esteja sendo feito há mais tempo. "Ele não repassa o dinheiro que estar sendo enviado normalmente pela Funai em Brasília e ainda alega que os recursos não estão vindo. Confirmamos que era tudo mentira e ai queremos que ele saia do cargo", relata um dos caciques da Tribo Kaimbé, Flávio de Jesus Dias.

Para se ter uma idéia, segundo documentos apresentados pelo cacique, em setembro de 2007 foram encaminhados R$ 1 milhão e 170 mil para todas as áreas, entre elas agrícola, saúde, educação e cultura. Deste total R$ 190 mil eram para projetos em agricultura e nada foi entregue às aldeias.

"O certo era ele chamar todas as lideranças e comunicar que o dinheiro era tanto e que ficaria dividido para as aldeias, ou até iria repartir de acordo com as necessidades de cada uma, mas não o fez e o dinheiro sumiu", acusou. Flávio disse ainda que um projeto com o valor de R$ 20.195 foi aprovado no orçamento de 2007 para a Tribo Kaimbé, para ser
desenvolvido entre maio e agosto e até o momento nada foi repassado.

O cacique afirma que até o momento os desvios só foram notados na área agrícola, mas que já existem indícios de fraudes em outras áreas. "Fomos a Brasília e descobrimos que os recursos estavam sendo repassados normalmente, mas nada vem para nossas aldeias.

Para não ser descoberto ele ( Valadares) tentou evitar que fôssemos recebidos pelo presidente da Funai, Márcio Meira e ainda não autorizou a nossa hospedagem lá, só após dois dias é que conseguimos ficar na hospedaria por conta da Funai", contou.

O vice-cacique da Tribo Kiriri Marcelo de Jesus disse que um documento foi enviado para Brasília, relatando os desvios e solicitando a exoneração do diretor, mas até o momento não houve resposta, então os índios resolveram ocupar a sede do órgão para pressionar a presidência a tomar uma decisão.

"Ele não é transparente e não dá apoio à comunidade indígena, como na agricultura e cultura, por isto queremos a sua exoneração.

Além de tentar dividir o nosso povo com o intuito de acabar com a nossa articulação em relação à garantia de nossos direitos", conclui.

Flávio disse que outras comunidades já manifestaram apoio ao movimento e até segunda-feira outros índios chegarão para ajudar na ocupação da Funai. Os funcionários não estão trabalhando no prédio e foram comunicados pelos índios de que o expediente só retornaria ao normal após uma decisão de Brasília.

OUTRO LADO - Administrador da Funai, em Paulo Afonso, Vasconcelos nega as acusações e chamou os índios de levianos e mentirosos, afirmando que a ocupação da sede do órgão foi tomada por um número reduzido de índios que não aceitam as regulamentações da entidade.

"Já recebi vários telefonemas de caciques e líderes de aldeias, indas que estão aqui, se solidarizando comigo e já obtive informações de que o Flávio será destituído do cargo, já que tomou a decisão sem consultar o outro cacique", afirmou.

Vasconcelos diz que os recursos estão sendo enviados de forma correta e que são repassados para as aldeias todo mês. Quanto aos projetos, eles entraram na programação da administração local, mas não houve ainda a descentralização (autorização) para o envio de recursos. "O projeto pode ser descentralizado como pode ser reprogramado para outra
área, isso a depender da necessidade de cada aldeia. Eles sabem muito bem como são os trâmites do órgão e agora ficam inventando histórias para justificar um ato impensado deles", acusou. Vasconcelos disse que a ocupação do órgão trouxe prejuízos ao desenvolvimento das atividades e que já solicitou a Procuradoria Federal que entre com um pedido de
reintegração de posse na Justiça Federal. "Devido ao feriado não comuniquei o fato à chefia em Brasília, mas segunda-feira irei tomar as atitudes que o meu cargo exige. Esta ocupação não é aceita nem pela etnia da qual eles fazem parte", avaliou.

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