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Índios denis iniciam autodemarcação no Amazonas

O Estado do Paraná- Curitiba-PR
12 de Set de 2001

Cansados de esperar pela demarcação oficial de suas terras, no Alto Juruá, Amazonas, os índios denis anunciaram ontem o início da autodemarcação de seu território, com a abertura das primeiras trilhas. O anúncio foi feito para a imprensa, a bordo do navio MV Artic Sunrise, do Greenpeace, que estará na Amazônia durante os próximos dois meses. A entidade ambientalista apoia os denis desde 1999, contra a invasão de madeireiras asiáticas em seu território tradicional. Também estão envolvidos no processo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a Operação Amazônia Nativa (Opan).
A área, de 1,53 milhão de hectares, situa-se nos municípios de Itamarati e Tapauá e é reconhecida como território deni, pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Mas ainda não foi oficializada através de portaria declaratória pelo Ministério da Justiça, primeiro passo para a demarcação oficial.
Segundo informações fornecidas pela direção da Funai, a portaria foi devolvida pelo ministério, no último dia 3 de setembro, em função de uma contestação, já esclarecida pela Funai, e deve seguir novamente para o ministério ainda este mês. Só então poderiam ser tomadas quaisquer medidas por órgãos ligados ao governo federal.
"Faz 15 anos que esperamos que o governo brasileiro garanta a proteção de nossas terras através da demarcação. Enquanto isso, o povo deni convive com a ameaça de empresas madeireiras, que querem destruir nossa casa", declarou o chefe deni Haku Varashadeni. Em 1996, a madeireira asiática WTK instalou-se no Brasil, assumindo a empresa local Amaplac. A empresa afirma possuir 313 mil hectares de floresta na região, sendo 150 mil na área de uso tradicional dos índios. A madeireira chegou a solicitar indenização à Funai, que foi negada, sob a alegação de que o órgão não indeniza floresta, só benfeitorias.
Cerca de 800 denis ainda vivem nas 5 aldeias do Rio Xeruá e 4 do Rio Cuniuá, de agricultura de subsistência e extrativismo. São considerados seminômades porque partem de suas casas durante o inverno amazônico (estação chuvosa) para fazer coletas de espécies nativas e caçar. Pescam com auxílio dos venenos Kumu e Vekema, extraídos de plantas, que deixam os peixes atordoados.
Muitos homens denis morreram durante o ciclo da borracha, em que chegaram a ser recrutados como "soldados da borracha", tendo as mulheres e crianças permanecidos escondidas dentro da floresta. Até hoje, as doenças dos brancos ainda os afetam seriamente. Em 1992, por exemplo, uma epidemia de sarampo matou 67 deles, que tinham contato com madeireiros.
A presença da WTK nos rios Xeruã e Cuniuá representa, ainda, um risco cultural e físico a outros seis grupos indígenas da região, entre eles, os índios hi-marimãn, que não tiveram nenhum contato com a "civilização" e os Suruaha, com apenas alguns contatos esporádicos. Além de apoiar a autodemarcação dos denis, colocando técnicos à disposição dos índios, o Greenpeace desenvolveu intensa campanha de pressão na Europa contra a WTK, fechando o mercado à sua exportação de compensados de madeira. Segundo os ambientalistas, a empresa comprometeu-se publicamente a não impedir o projeto de autodemarcação indígena.

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