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Índios deixam mina de ferro da Vale

OESP, Nacional, p. A17
20 de Out de 2006

Índios deixam mina de ferro da Vale

Carlos Mendes

Um acordo entre a Fundação Nacional do Índio (Funai) e os líderes dos aldeias xicrins acabou ontem com o bloqueio de dois dias à mina de ferro de Carajás explorada pela Companhia Vale do Rio Doce em Parauapebas, no sudeste do Pará. Os índios deixaram o local divididos em grupos, mas continuarão lutando para receber mais do que os R$ 9 milhões que a Vale lhes paga anualmente por explorar o minério na região e para passar com os vagões da ferrovia de Carajás por dentro da reserva indígena.

A Vale se negou a fazer acordo sem que os índios deixassem a empresa. O administrador da Funai em Marabá, Raulien Oliveira, que convenceu os índios a sair, fez críticas à Vale. 'Ela está brincando com os índios. Eles cumpriram a parte deles liberando a área e até agora a empresa não marcou uma data para reunir-se com eles', cobrou Oliveira. Agora que os índios saíram, completou ele, resta à Vale levar representantes para uma reunião com os índios e a Funai, em Brasília.

Os xicrins ocuparam as instalações da Vale na terça-feira à tarde, impedindo a saída dos funcionários. Além do reajuste do recurso, eles também exigem a construção de quarenta casas na comunidade Cateté e vinte casas em outra, a Djudjeko, recuperação e manutenção das estradas de acesso às duas aldeias.

A justiça de Redenção deu à Vale liminar de reintegração de posse na noite do mesmo dia, mas os índios decidiram manter o bloqueio. A negociação foi dura. A ordem dos caciques era só deixar o local depois de uma reunião com a Vale, mas o diretor do Sistema Norte da Vale, José Carlos Soares, resistia: 'Sob chantagem não haverá negociação. O bloqueio havia deixado 12 mil funcionários paralisados e dois caciques que lideravam o protesto foram taxativos: 'Ninguém sai daqui, estamos preparados para ficar mais de três semanas'.

A Funai apóia os xicrins na luta por aumento do valor pago pela empresa e outras melhorias em suas condições de vida. O diretor da Funai, Almir Queiroz, entende que a Vale não está fazendo nenhum favor aos índios : 'Ela deve dar uma compensação melhor pela exploração de todo esse minério. Não podemos esquecer que essa exploração traz prejuízos para as comunidades que vivem por aqui'.

A Vale deixou de produzir 250 mil toneladas de minério de ferro por dia depois que os índios fecharam a mina e impediram o carregamento dos vagões. Entre sete e dez navios estrangeiros aguardam em fila, no porto de Itaqui, para serem carregados. Agora, que os índios cederam, as negociações serão retomadas.

OESP, 20/10/2006, Nacional, p. A17

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