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Índios celebram o kuarup

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
17 de Abr de 2004

Os cerca de quatro mil índios de 15 povos que habitam o Parque Nacional do Xingu, norte do Estado, celebram neste domingo, na aldeia Yawalapíti, a cerimônia do kuarup. Trata-se de um ritual dos grupos indígenas xinguanos para homenagear os mortos. A tradicional cerimônia é assistida pela grande maioria das aldeias, autoridades e estudiosos.
Este ano, apenas índios serão homenageados. Em 2003, eles renderam homenagens ao indigenista Orlando Villas-Bôas. A representação da cerimônia consiste em torno de poste de madeira que é decorado para tal fim, simbolizando os mortos. A festa é preparada com antecedência, sempre no período de seca, e em época de colheita.
Num cenário onde os índios reafirmam a sua identidade, os povos xinguanos evocam, juntos, as almas dos mortos ilustres. Pajés dançam, cantam e choram diante dos troncos. "Para a realização de um kuarup não basta apenas somente o parente próximo do morto aceitar. É preciso que haja uma aceitação e envolvimento de todas as aldeias", explica o superintendente de Políticas Indígenas (órgão ligado à Casa Civil), Idevar José Sardinha.
De acordo com indigenistas, os troncos feitos da madeira "kuarup" são a representação concreta do espírito dos mortos ilustres. Corresponderia à cerimônia de finados dos brancos. Entretanto, o kuarup é uma festa alegre. Na visão dos índios, os mortos não querem ver os vivos tristes ou feios.
Segundo o indigenista, para a realização da cerimônia geralmente é escolhido um parente próximo do morto a ser homenageado. A aldeia anfitriã hospeda índios de várias comunidades oferecendo-lhes, nos dois dias de ritual, comida e bebida.

Preparativos
Pela tradição, sempre à noite, os índios trazem da floresta várias toras de madeira, conforme o número dos homenageados. Os "kuarupes" ficam em linha reta no centro do terreiro em frente às malocas onde são recortados na forma humana. Cada um é pintado com as suas respectivas insígnias, que em vida os fazia distinguir pajés, guerreiros, caçadores ou até mesmo aqueles que mais descendentes deixaram.
As várias etapas da cerimônia incluem homens com arco e flechas entoam hinos aos mortos. As mulheres, de cabelos soltos, trazem algumas frutas e guloseimas, ricos cocares, plumagem de coloridos vivos, braceletes e colares, e aproximam-se em passos harmoniosos dos kuarupes. Em voz baixa, como um sussurro, travam com eles um pequeno diálogo em que parecem exprimir toda a gratidão, falando-lhes das saudades que deixaram, oferecendo-lhes ao mesmo tempo os frutos e guloseimas, e enfeitando-os com os ricos cocares, as plumas, os braceletes.
No começo da noite as aldeias voltam a se apresentar para pegar um pedaço de pau em brasa e dar início a uma outra etapa do ritual. Depois as mulheres choram os mortos junto aos kuarupes. Na manhã do dia seguinte, ocorre a apresentação em círculo à família do "homenageado".
Em outro ritual, ocorre a dança do fogo, em volta dos kuarupes e a dança da vida, executada pelos atletas da tribo. Por fim, ocorre a homenagem das diversas tribos que executam a luta huka-huka. O kuarup é encerrado em festiva procissão com os troncos sendo jogados no rio.

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