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Índios atacam médico a golpes de facão em Bertópolis

Hoje em Dia-Belo Horizonte-MG
Autor: Ana Lúcia Gonçalves
05 de Ago de 2004

As desavenças entre as famílias indígenas da aldeia Maxakali, localizada em Bertópolis, no Vale do Mucuri, por pouco não provocaram novas mortes. Desta vez, quem correu risco foram funcionários da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Revoltado com uma carona dada pela equipe a um inimigo seu, o índio Neir Maxakali e familiares teriam incendiado um veículo da Fundação Nacional do Índio (Funai) e, por pouco não mataram um médico e seu motorista, a golpes de facão. Eles foram salvos por outros indígenas. Ninguém foi preso.
A informação de que os Maxakali fizeram reféns após esse episódio foi desmentida pela Polícia Militar, que atuou na operação, mas, na manhã de ontem, o chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena da Funasa em Governador Valadares, Altino Barbosa Neto, seguiu para a aldeia para levantar os fatos. O delegado da Polícia Federal de Valadares, Marinho Rezende, dois agentes e um escrivão também seguiram para a aldeia na tarde de ontem, devendo iniciar os trabalhos hoje. Já o administrador da Regional da Funai em Valadares, Fábio Vilas, não falou sobre o assunto.
Segundo o comandante do Destacamento da Polícia Militar de Santa Helena de Minas, sargento Carlos Alberto Costa Prates, a PM foi acionada pelo médico da Funasa Ulisses Ramom Pereira da Silva, por volta das 17 horas de terça-feira. Ele teria contado que alguns índios da aldeia Pradinho haviam incendiado o veículo em que estava, a Ranger placa GMF 3835, conduzida por Rodinélio José de Oliveira, e teriam tentado matá-los com facões.
Na aldeia, a PM levantou que, ao ver o veículo da Funai transportando, entre outros índios, um desafeto seu, Neir Maxakali tentou agredi-lo dentro do veículo, mas, como não conseguiu, esperou que o carro retornasse à aldeia. Com a ajuda de familiares, ele bloqueou a estrada e jogou paus e pedras contra a Ranger. O motorista tentou fugir, mas a carro capotou e os índios os alcançaram, tentando agredi-los com golpes de facão. O médico e o motorista conseguiram fugir, com a ajuda de outros índios. Revoltado, o grupo de Neir ateou fogo ao veículo.
Funcionários da Funasa teriam informado que outros nove colegas de trabalho estavam na aldeia, e, possivelmente, cercados dentro do Posto de Saúde. Com essa informação, o pelotão PM de Santa Helena de Minas deslocou uma equipe para reforçar o efetivo de Bertópolis, em um suposto resgate de reféns. No entanto, encontraram os funcionários já na estrada, saindo da aldeia. "Segundo os funcionários que ali estavam, não houve ameaças contra eles por parte dos indígenas", disse o sargento.
Em maio deste ano, três índios Maxakali foram assassinados e um foi ferido a golpes de facão, na aldeia, em conflitos internos. Oito foram presos pela PM e ficaram sob a custódia da Funai em Valadares. Tanto os que mataram, quanto os que morreram, segundo a Funai, estavam alcoolizados, o que é um problema crônico na aldeia.
Depois do fato, o Ministério Público Federal acionou a União, a Funai e a Funasa, em defesa dos Maxakali, e, em uma Ação Civil Pública, com pedido de antecipação de tutela, determinou o fornecimento de cestas básicas por seis meses a cada uma das famílias e a implementação, em 180 dias, de um programa de auto-sustentação que possibilite aos índios sobreviver à custa de seu próprio esforço, trabalhando a terra em que vivem e dela retirando seu sustento. As primeiras 260 cestas básicas foram entregues pela Funai em 23 de julho.

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