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Autor: Andrezza Trajano
27 de Set de 2011
A garimpagem na reserva Yanomami, antes restrita apenas aos não índios, ganhou agora oficialmente o apoio de alguns indígenas da região do Parafuri. Com o aval deles, a retirada ilegal de minérios deve avançar ainda mais pelo território.
A denúncia partiu do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), vinculado a Secretaria de Atenção Especial a Saúde Indígena (Sesai), que comunicou o fato a Hutukara Associação Yanomami (HAY) e pediu providências.
Em documento enviado a HAY, o distrito informa que dois guardas de endemias que estavam anteontem na região realizando ações de controle da malária relataram a presença de garimpeiros no rio Parima, que é afluente do Parafuri, onde eles também desenvolvem atividades de combate ao mosquito transmissor da doença.
Ainda conforme o documento, "o fluxo de garimpeiros nas aldeias é muito grande", o que está prejudicando os trabalhos de saúde realizados nas comunidades. Antes, os profissionais de saúde tinham apenas o relato feito pelos indígenas sobre a presença de garimpeiros.
"Os indígenas estão trabalhando diretamente nos garimpos e não querem mais receber os agentes de saúde", narra a correspondência, alertando para o surgimento de doenças e de outros problemas por causa da relação próxima entre índios e garimpeiros.
O diretor da Hutukara, Dário Yanomami, confirmou à reportagem que alguns indígenas estão apoiando a garimpagem ilegal de minérios em seu território. Segundo ele, essa relação inapropriada é proveniente da inércia do poder público. Na localidade em questão, há garimpos em atividade há pelo menos dez anos.
"Há tempos os garimpeiros vêm aliciando os indígenas e há tempos nós denunciamos, mas as autoridades não fazem nada", protestou.
Dário Yanomami disse ainda que pelo menos três garimpeiros estão morando nas malocas dos indígenas. "O que está acontecendo é que esses indígenas cansaram de lutar pelos seus direitos. Viviam pedindo por ações de saúde de qualidade que não chegavam e lá estão os garimpeiros para lhes oferecer dinheiro e remédios, o que para eles é mais fácil", afirmou, lamentando a situação.
O administrador da Fundação Nacional do Índio (Funai), André Vasconcelos disse que não recebeu a comunicação formal do caso, mas que pedirá à Polícia Federal (PF) que adote as providências pertinentes.
Conforme ele, a Frente de Proteção e Etnodesenvolvimento Yanomami e Yekuana, vinculado a Funai, é quem atua nesta questão, em conjunto com a PF, Ministério Público Federal e Exército Brasileiro. A unidade tem todos os garimpos e pistas de pouso clandestinas mapeados.
"Sabemos da presença de garimpeiros e temos conhecimento que eles andam armados e que estão armando os índios. Só que não temos como tirá-los da reserva, isto depende de uma articulação envolvendo outras instituições do Governo Federal", enfatizou.
Vasconcelos participou recentemente de uma assembleia com os Yanomami de Surucucu, onde discutiu o assunto. Ainda esta semana ele sentará com indígenas do Catrimani, onde reforçará a importância deles manterem distância dos garimpeiros.
A reportagem contatou a Polícia Federal, porém a instituição não se pronunciou sobre o assunto. A Folha também tentou contato com Joana Claudete das Mercês Schuertz, chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami, mas foi informada que ela está viajando.
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