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Índio vai ensinar na língua nativa

MEC-Brasília-DF
Autor: IONICE LORENZONI
27 de Mai de 2006

O curso Licenciatura Indígena em Políticas Educacionais e Desenvolvimento Comunitário será ministrado em línguas indígenas no Amazonas. O português funcionará como língua auxiliar. A proposta da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) tem o apoio do Ministério da Educação (MEC) e será oferecida em parceria com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e o Instituto de Desenvolvimento em Política Lingüística (Ipol).

O curso terá 120 vagas distribuídas nos pólos de Cucuí, no Rio Negro, para os falantes do Nheengatu; em Taracuá, no Rio Uaupés, para os da língua tucano; e em Tunuí, no Rio Içana, para os falantes do aruaque, baniua e Kuripaco.

Ao longo do Rio Içana e afluentes, no Amazonas, Colômbia e Venezuela vivem 4.026 Baniua e 1.115 Kuripako no Brasil; na Colômbia, ambas etnias somam 6.790 e, na Venezuela, 3.236. Os dados são de 2000 e 2001.

A duração será de quatro anos divididos em oito etapas presenciais e sete não-presenciais. Das 3.700 horas do curso, o aluno deverá se dedicar, obrigatoriamente, 1.600 horas para pesquisa.

Ignoradas

De acordo com o professor José Ribamar Bessa, das universidades estadual e federal do Rio de Janeiro, historiadores geralmente não sabem o que é língua e, na formação, não aprendem a relação dela com a cultura e a identidade de um povo. "As línguas indígenas são sempre ignoradas ou apresentadas como inferiores".

Além disso, ele lamenta a falta de importância dada ao processo de hegemonização da língua portuguesa. E elogia o fato de os lingüistas, ao contrário dos historiadores, não hierarquizarem as línguas.

Índios professores

De acordo com a coordenadora do projeto de lançamento do curso e professora do Departamento de Geografia da Ufam, Ivani Ferreira de Faria, serão formados professores indígenas para trabalhar em escolas indígenas e em línguas indígenas. "Com este projeto, a Ufam e seus parceiros dizem claramente que não querem promover o aldeamento educacional".

Diferente da concepção das licenciaturas indígenas oferecidas por instituições de ensino superiores federais e estaduais, o curso da Ufam não tem uma grade curricular pronta. A grade, explica Ivani de Faria, será construída à medida que os alunos forem fazendo suas pesquisas que serão fortemente ligadas às necessidades e interesses da coletividade.

Patrimônio, cultura e cidadania

O curso não tem grade pronta, mas se sustenta em três eixos construídos em comum acordo pela universidade, Ipol e Foirn: políticas educacionais e escola indígena; patrimônio, cultura e cidadania; e desenvolvimento comunitário e questão territorial.

Pretende-se formar professores pesquisadores capazes de gerenciar e elaborar projetos para a sustentabilidade de suas aldeias. Ao entrar em cada um dos três eixos, os professores indígenas participarão de oficinas, entre as quais, suporte teórico-científico. Elas serão a base dos projetos de pesquisa que desenvolverão posteriormente. A licenciatura oferece também prática de ensino e estágio supervisionado.

Entre os critérios de seleção, alinham-se: ter concluído o ensino médio, falar e escrever uma das línguas das aldeias do pólo, responder um memorial descritivo, mostrar domínio da língua indígena na entrevista e ser indicado pela comunidade.

Recursos

Para custear esta proposta inovadora e descentralizada no Amazonas, a Ufam está buscando uma parceria com a Petrobras. Ivani de Faria diz que os maiores custos do projeto estão no transporte, alimentação, materiais didáticos e salários dos professores que se deslocarão para as três aldeias durante os quatro anos do curso, 2007/2010.

Para ir e voltar a Tunuí, por exemplo, são necessários 500 litros de gasolina. Além disso, será preciso construir uma maloca em cada aldeia que servirá de sala de aula, biblioteca, telecentro e refeitório para alunos e professores.

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