VOLTAR

Índio tem menor índice de desenvolvimento

FSP, Brasil, p. A9
19 de Abr de 2005

505 Anos depois
Índio tem menor índice de desenvolvimento
Estudo mostra que IDH indígena no Brasil é quase igual ao da Bolívia e que orientais no país vivem como no Japão

Antônio Góis
Da sucursal do Rio

A desigualdade brasileira vem sendo cada vez mais dissecada a partir de suas matizes brancas, negras e pardas. Porém são os grupos populacionais indígenas e amarelos -pouco estudados por representarem menos de 1% da população- que ocupam os extremos opostos do ranking de desenvolvimento humano do país.
Um estudo inédito do economista Marcelo Paixão, coordenador do Observatório Afro-Brasileiro, mostra que a população indígena brasileira apresenta um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) próximo ao da Bolívia. No outro extremo, os amarelos -definição do IBGE para identificar populações orientais- vivem no país com padrão de vida semelhante ao do Japão.
O estudo de Paixão faz parte de sua tese de doutorado no Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) sobre o processo de construção das desigualdades raciais no Brasil. Ele calculou, a partir do Censo 2000 do IBGE, como seria o IDH dos diferentes grupos étnicos caso fossem analisados isoladamente.
O IDH é um indicador da ONU que aponta o padrão de desenvolvimento humano em cada país. Ele é calculado a partir de indicadores de escolaridade, renda e expectativa de vida. O valor encontrado varia de zero, o pior desenvolvimento humano possível, a um, o melhor. Um índice acima de 0,800 é considerado de alto desenvolvimento humano.
Para o Brasil, o índice fica em 0,790, o que coloca o país na 62ª posição do ranking de 177 países divulgado em 2004. A população que declarou cor amarela no censo tem, isoladamente, IDH de 0,937, próximo do Japão (nono no ranking). No outro extremo, os índios têm IDH de 0,683, próximo da Bolívia (114o no ranking).
Paixão deixa claro que sua tese de doutorado não é um estudo focado na população indígena, mas, para ele, os baixos indicadores desse grupo são reflexo da mesma cultura que relegou a população negra a segundo plano no país.
"O Estado brasileiro durante muito tempo construiu uma estratégia de uniformização do povo, tanto na tentativa de embranquecimento como na tentativa de aculturação forçada", diz.
Outros dados da tese mostram que não é apenas no desenvolvimento humano que os indígenas têm os piores índices. A taxa de mortalidade por desnutrição na população indígena adulta é de 11,2 por 100 mil habitantes, contra a média de 4,3 da população brasileira. A proporção de indigentes também é maior: 45% da população, contra 23% da média do país.
Para a pesquisadora do IBGE Nilza Martins Pereira, é preciso considerar que a população indígena é extremamente diversificada, apesar de representar só 0,4% da população (ou 734 mil).
Ela afirma também que nem toda a população que se declarou indígena vive em aldeias. Segundo o Censo, mais da metade (52,2%) vive no meio urbano.
Para o escritor indígena Daniel Munduruku, diretor-presidente do Inbrapi (Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual), o conceito de pobreza e desenvolvimento humano pode ser empregado a populações indígenas urbanas, mas não pode ser aplicado sem tratamento crítico aos índios que vivem em aldeias.
"Se você pesquisar uma aldeia apenas pelo critério de renda, chegará a conclusão de que aquele é um lugar de muita miséria. Porém há de se considerar que o povo indígena sempre viveu com muito pouco", diz Munduruku.

IDH de orientais no Brasil é quase igual ao do Japão
Marcelo Salinas
Da redação
A população de origem oriental no Brasil que declarou ao IBGE "cor amarela" representa apenas 0,4% da população, ou 762 mil pessoas. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do grupo é o maior entre as etnias pesquisadas: 0,937, quase o mesmo 0,938 do Japão.
Se fosse considerada apenas a região Sudeste, o IDH entre os orientais seria de 0,958, maior do que o da Noruega (0,956), país com o melhor índice do mundo.
Uma das razões para que a população oriental brasileira tenha padrões de desenvolvimento humano iguais ao de países desenvolvidos está no valor que parte considerável dessa população atribui à educação, item que mais eleva o IDH dos amarelos no Brasil.
A preocupação de Regina e Cláudio Kawakami com a educação dos filhos ilustra a constatação. Netos de japoneses, Cláudio, 41, é médico, e sua mulher, Regina, 40, é formada em matemática. Seus filhos Felipe, 13, e Nathália, 10, sempre estudaram em colégios particulares.
Além da escola, Felipe estuda inglês há dois anos e ambos os filhos praticam judô e tênis duas vezes por semana. "Quando estão em casa, ficam o dia inteiro na internet", conta Regina.
A mãe diz que eles sempre tiraram as notas máximas na escola: "Até a quarta série, os dois só tiraram "A", em todos os bimestres". Ela calcula que a família gasta cerca de R$ 2.000 por mês com a educação dos filhos.
Colaborou ANTÔNIO GOIS, da Sucursal do Rio

Deputado protesta contra demarcação
O deputado Pastor Frankembergen (PTB-RR) discursa na Câmara, enrolado nas bandeiras de Roraima e do Brasil (nas costas), contra a demarcação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol. Ele chegou a cantar trecho do hino do Estado. No programa de rádio "Café com o Presidente", ontem, Lula disse que a demarcação foi "um marco". Ontem, o governador de Roraima, Ottomar Pinto (PTB), protocolou ação na Justiça Federal contra a homologação e decretou luto oficial de sete dias

Índios vão a Brasília pedir mudanças
Líder indígena descansa no salão verde da Câmara dos Deputados, após reunião que as lideranças indígenas de todo o Brasil tiveram ontem com deputados federais e com Mércio Pereira, presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio). A fundação comemorou ontem o Dia do índio -a data certa da comemoração é hoje. Os índios exigem que a saúde, gerida atualmente pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde), volte a ser responsabilidade da Funai

FSP, 19/04/2005, Brasil, p. A9

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.