Índio quer respeito

O presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu, em café matinal, no Alvorada, o índio pantaneiro Marcos Terena, coordenador de Direitos Indígenas da Funai, com quem trocou bons dedos de prosa. Obrou bem. Já vai distante o tempo em que índio se contentava com apito e bugigangas. No Mato Grosso, o governador Dante de Oliveira, que articulou o encontro, está criando a Universidade do Índio. Universidade mesmo.Marcos Terena disse a FH que sua gente quer, e não abre mão, "representação política e participação com assento em colegiados como os conselhos federais de Educação, de Cultura, de Meio Ambiente, de Saúde e até mesmo na Fundação Nacional do Índio". É um sonho possível. Antes mais tarde do que tarde."Precisamos assegurar e compartilhar o resgate da origem étnica de nosso País, como já vem ocorrendo no resto da América Latina", reivindica Marcos Terena:- Na Bolívia, no Equador e na Colômbia, entre outros países, são eleitos deputados, senadores e governadores indígenas. Mais ainda, até um presidente indígena, como é o caso do Peru. Hoje o índio é parte legítima do processo, numa demonstração clara de que já não se faz programa de índio como antigamente. Como podemos fazer um país forte, se formarmos um povo fraco?FH mostrou-se sensibilizado com o discurso de Terena. O pranto de Cunhambebe começa a ser ouvido. A semente plantada com a Confederação dos Tamoios custou mas começa a vingar. Parodiando Augusto dos Anjos, o índio acordou da desgraça vendo toda a podridão da sua raça na tumba de Iracema.
ÍNDIO - 2"As representações indígenas geram fóruns de direitos em diversos níveis, nacional e internacionalmente, inclusive de afirmação de identidade étnica", diz Marcos Terena, enfatizando que, "dentro da reflexão dos povos indígenas e de seus líderes, o que há é a busca de respostas sobre a realidade que os cerca":- Empobrecidos e discriminados, mesmo vivendo em terras ricas em recursos minerais e naturais, os índios são ricos em suas culturas étnicas. São 180 línguas e 230 povos.É o que Terena dirá na 3ªConferência Mundial contra o Racismo, que começa dia 31, na África do Sul. Recebeu a solidariedade de FH
.A PROPÓSITO..."No meio das tabas não quero ver dores / mas morubixabas e altivos senhores. // Quero a rebeldia das tribos na aldeia. / Nada de 'poesia', quero cara feia: / cor de jenipapo com urucum no peito, / não índio de trapo falando sem jeito."(Gilberto Mendonça Teles, in "Sociologia Goiana", certamente concordando com Antônio Callado, in Quarup, para quem "os índios fascinam a gente porque são anteriores ao tempo").