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Índio não quer apito, quer dinheiro!

Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: Onofre Ribeiro
03 de Set de 2003

Os jornais de ontem trouxeram a informação de que os índios pareci e nhambiquara interditaram a rodovia MT-170 no trecho entre Campo Novo do Pareci e Sapezal, no último domingo. É inédito o que os índios querem: plantar.

O que estaria por de detrás dessa reversão de atitudes dos índios? Está a quebra de uma cultura para eles insuportável de miséria, de mendicância e de falta de perspectivas.

Gostaria de resgatar aqui uma série de contradições a respeito dos índios para ilustrar o que existe por detrás dessa atitude inédita dos indígenas, tachados preguiçosos e incapazes.

Nos últimos dez anos todas as etnias indígenas de Mato Grosso estão em crescimento demográfico. Antes, eles entraram numa paralisia e quase não havia mais crianças nas aldeias. Porém, recomeçaram a crescer. Se de um lado isso é bom, de outro só faz aumentar a pobreza e a falta de horizontes.

Recentemente vi o mapa das aldeias xavantes de Sangradouro e de Volta Grande, nos municípios de Primavera e de Santo Antônio do Leste. É de chorar o retrato econômico. Logo, o retrato social é mais triste. As áreas das duas reservas mostram o verde inexplorado, dentro do qual são mantidos cerca de 350 índios que estão ali desde 1930, conhecem os vícios dos brancos como o álcool e mais recentemente as drogas. Vivem na linha da miséria e não enxergam futuro.

O que se vê no mapa dessas duas reservas é uma ilha de miséria espremida de um lado pela rodovia BR-070 que demanda a Barra do Garças, e de outro centenas de propriedades agrícolas exploradas economicamente com alta tecnologia em soja, milho, algodão, milho e sorgo e pecuária. Na sua visão simples, os índios não entendem essa diferença econômico-social. Reagem negativamente e são cada vez mais discriminados... e mais pobres!

Há alguns anos os índios dessas duas reservas chegaram a assinar um contrato de arrendamento de área para a agricultura de soja a produtores de Primavera do Leste. No meio do contrato, depois do solo preparado e plantado, os índios foram insuflados por membros de ONGs e religiosos a retomarem a área e interromperem unilateralmente o contrato de arrendamento.

Cabe perfeitamente a pergunta: a quem interessa esse confronto entre a riqueza dos brancos e a pobreza dos índios? Ela interessa a acadêmicos ligados à Fundação Nacional do Índio, aboletados nas praias do Rio de Janeiro com sua visão romântica do índio e da terra. Além, é claro, de organizações não-governamentais ligadas à mina de ouro que é a relação com as etnias indígenas.

Por isso, quando vejo a revolta dos índios nhambiquara e dos pareci querendo produzir, ter dinheiro, sair da miséria e ser respeitados pela sociedade branca, eles estão tentando romper o círculo do protecionismo burro que os impede de serem cidadãos produtivos. O sinal é claro: daqui para a frente começará a secar a fonte de dinheiro com a colonização dos índios. Índio não quer mais apito, como dizia a marchinha carnavalesca dos anos 60. Índio quer ganhar dinheiro!

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