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Índio morre após ser espancado por três jovens em Minas

Tribuna da Imprensa
18 de Set de 2007

BELO HORIZONTE - Um índio da aldeia Xacriabá foi espancado até a morte por três jovens, entre eles dois menores de idade, na madrugada de domingo, na cidade de Miravânia, Nnorte de Minas Gerais. Conforme informações da Polícia Civil, o índio Avelino Nunes Macedo, 25 anos, foi seguido pelos jovens depois de sair de uma festa realizada em um ginásio. As agressões foram motivadas por um "esbarrão" durante a festa.

Edson Gonçalves Costa, de 18 anos, Gilvando Pinheiro de Oliveira, 16, e Vagner Silva Rodrigues, 15 anos, confessaram as agressões, mas alegaram que não tinham a intenção de matar a vítima. Disseram que queriam apenas dar um "susto" no índio e deixá-lo nu. Eles também confessaram que ingerido bebida alcoólica.

De acordo com o delegado da cidade de Manga, Airton Alves Almeida, os três foram autuados por homicídio qualificado, por motivo fútil. "O índio deu um esbarrão natural em um dos menores, o Gilvando. Então na saída resolveram tirar a roupa dele, que estava com uma calça comprida e uma blusa", contou ontem o delegado.

O xacriabá tentou reagir, mas foi derrubado e agredido a pauladas, socos e pontapés. "Esse assassinato por motivo fútil talvez tenha sido gerado por um preconceito étnico", observou Almeida. Segundo o delegado, o índio não portava faca ou qualquer objeto que pudesse ameaçar os agressores. Edson Gonçalves permanecia ontem preso à disposição da Justiça. Os dois menores foram encaminhados para o Ministério Público e tiveram a apreensão provisória solicitada. Um quarto jovem foi inocentado pelos colegas e liberado pelos policiais.
Tensão

O coordenador da regional leste (MG, ES e sul da Bária) do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Wilson Mário Santana, disse que a entidade iria solicitar que a Fundação Nacional do Índio (Funai) acionasse sua assessoria jurídica para acompanhar o caso. "A comunidade xacriabá é formada por uma população grande. Temos preocupação de a situação ficar tensa."

O Cimi informou que cerca de oito mil índios xacriabás vivem no Norte do estado, numa área estimada em 54 mil hectares. Com base em uma documentação de doação datada da primeira metade do século 18, eles reivindicam a ampliação do território, o que costuma gerar atritos com fazendeiros da região.

A maior parte da reserva está localizada no município de São João das Missões (a 663 quilômetros de Belo Horizonte), cujo prefeito - João Nunes de Oliveira (PT) - pertence à etnia. No final dos anos 80, três líderes xacriabá foram assassinados durante um conflito fundiário.

De acordo com Nilton Seixas, do Cimi em São João das Missões, o assassinato ocorreu em uma área reivindicada. "Acho que é preciso investigar melhor essa situação. A gente aqui avalia com uma preocupação muito grande. Um crime que aparenta ser banal, sem nenhuma razão, mas ao mesmo tempo, o povo (xacriabá) passa por um processo de muita ameaça. Esse povo vive hoje em apenas um terço do seu território."

Em junho último, agentes da Polícia Federal realizaram uma operação em São João das Missões para apreender armas em poder dos xacriabá. As próprias lideranças indígenas solicitaram a ação ao Ministério Público Federal.

Manoel Rocha, administrador substituto da Executiva Regional da Funai, em Governador Valadares (MG), tratou o assassinato como uma "molecagem" e um "caso isolado". Segundo ele, a Procuradoria do órgão irá agora "tomar as providências cabíveis".

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