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Índio mata segurança durante emboscada

A Tarde-Salvador-BA
Autor: (Carla Fialho)
11 de Dez de 2002

A briga entre índios e fazendeiros por disputa de terra, na região do Parque Nacional do Monte Pascoal, resultou na morte de José Geraldo Morais, 36 anos, segurança da Associação dos Fazendeiros. Na manhã de segunda-feira, o corpo foi encontrado num matagal na estrada de acesso ao Monte Pascoal, em frente à Fazenda Mirante, onde vivem oito
famílias da tribo Pataxó.
A vítima, que estava armada com uma escopeta e um punhal, levou quatro tiros. As famílias Pataxó deixaram suas casas e refugiaram-se em aldeias vizinhas. Segundo Sumário Santana,
do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a ausência das famílias não significa fuga, mas pode ser explicada pela cultura deles.
Isso porque, culturamente, os Pataxós não ficam em local onde há morto, por acreditar que o espírito pode reencarnar em que estiver por perto. A reportagem de A TARDE conseguiu
conversar com alguns índios que testemunharam osacontecimentos, mas, por segurança, eles
preferiram não se identificar.
De acordo com eles, desde sexta-feira da semana passada, vinham sofrendo uma pressão muito grande dos pistoleiros do fazendeiro Mauro Rossoni, que ameaçavam derrubar as casas
da Fazenda Mirante. No domingo, por volta das 14 horas, alguns índios estavam, no local, quando dois pistoleiros chegaram atirando.
Os índios reagiram, balearam um dos pistoleiros que ainda conseguiu fugir e mataram o outro.
Segundo a versão do delegado José Batista, da Polícia Civil, o segurança foi vítima de uma emboscada armada pelos índios. "Ele vinha na garupa da bicicleta de outro colega quando
levou os disparos, sem chances de reagir", afirma.
Conflito Ádson Rodrigues, também do Cimi, afirma que o conflito entre índios e fazendeiros, na região
do Monte Pascoal, é cada vez mais grave, e os tiroteios são constantes. No início de novembro, lideranças da Frente de Resistência e Luta Pataxó denunciaram o desaparecimento
de um índio, vítima de uma emboscada de atiradores armados.
O índio foi localizado preso na delegacia de Itamaraju, mas o episódio nunca foi esclarecido.
Ádson Rodrigues afirma ainda que o aumento da violência, no Monte Pascoal, já foi comunicado à Funai e ao Ministério Público Federal, mas, até agora, nenhuma providência foi
tomada.
Por trás do conflito, está a luta da comunidade Pataxós pela demarcação do território indígena.
Aguardando, há três anos, o laudo do Grupo Técnico da Funai em que será dado o parecer respondendo se o território reivindicado de 180 mil hectares pertence ou não aos Pataxó.
A comunidade indígena intensificou, desde abril, as retomadas das propriedades localizadas, no entorno do parque, despertando a revolta dos fazendeiros. Inicialmente, foram ocupadas quatro propriedades. Apesar de as fazendas terem sido reintegradas, a paz não voltou a reinar na região.
Na fazenda Santo Agostinho, uma das primeiras a ser ocupada, 18 homens ficam permanentemente de plantão. A reportagem conseguiu chegar lá com a promessa de que não tiraria fotos. Vários trabalhadores falaram que a tensão, no local, é muito grande; "não temos mais paz para nada, não podemos dormir, trabalhar, comer. Ninguém sabe qual será a próxima
vítima".

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