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Índio Índios tocam fogo em carro oficial

A Tarde-Salvador-BA
Autor: CRISTINA LAURA
29 de Jun de 2005

Liderados pela cacique Djanira, com lanças, arcos e flechas, impediram bombeiros de entrar no prédio da Funasa ocupado

Índios atikuns bahia e tumbalalás atearam fogo, ontem, num carro marca Toyota e justificaram o ato como represália ao descaso da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e da Fundação Nacional do Índio (Funai) que não enviaram ninguém para negociar com suas lideranças. Os indígenas estão acampados no prédio da Funasa, em Juazeiro, desde o dia 5 de junho.

Liderados pela cacique Djanira da Silva, empunhando lanças, arcos e flechas tocaram fogo no carro da instituição federal e impediram a entrada do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar no prédio. Segundo a cacique, "essa é a primeira vez que as aldeias da região se unem numa ação que terminou ontem com o saldo de um carro queimado".

Um Toyota está avaliado hoje, em média, em R$ 40 mil, dinheiro que, para os índios "não seria o ideal, mas já daria para comprar comida e remédios". Segundo o tenente José Alberto Souza e Silva Júnior, subcomandante do Corpo de Bombeiros, de Juazeiro, dois carros foram disponibilizados para controlar a situação, "mas eles só poderiam entrar no prédio com a Polícia Federal, já que o prédio pertence a um órgão federal".

PORTÃO DO PÁTIO - Policiais e bombeiros conversaram com a cacique e os índios das duas tribos através do portão do pátio interno da Funasa e afirmaram que ficariam apenas nas proximidades para garantir a segurança dos índios em caso de acidentes ou de uma possível revolta por parte da população, em relação à atitude tomada por eles.

- Estamos reivindicando nossos direitos, a Funasa diz que não tem carro para transportar os índios doentes da tribo para os hospitais e aqui no pátio tem quatro carros parados. Colocamos fogo em um e se não nos derem atenção vamos queimar os outros também -, assegura, com ênfase, a cacique Djanira, com arco e flecha nas mãos.

Contrário à destruição dos carros está o pajé Antonio Lourenço, que negou-se a participar da ação. "Não está correto, mas a cacique não quer me ouvir. Estou atrás de direitos sem precisar queimar carros".

SEM NADA - Do lado de fora, curiosos, gente da comunidade do bairro Angary, olhavam de longe a ação dos indígenas. A dona-de-casa Célia Regina Ferreira de Souza afirma que "brigar pelos direitos é correto, mas destruir os carros não vai resolver nada, eles vão é acabar ficando sem nada".

É a mesma opinião da estudante Mara Barbosa, que disse até "não acreditar que os ocupantes da Funasa sejam índios de verdade". Ela e muitas outras pessoas alegam considerar "índio raça pura, os sem celulares nas mãos, sem roupas de brancos ou qualquer outro produto que lembre influência de outros povos".

Depois de 23 dias de ocupação, os índios se mostram cansados de esperar que alguém apareça. Para a cacique Djanira da Silva, "é humilhação demais, só estamos lutando por direitos que são assegurados pela legislação indígena brasileira. Temos a Funai e a Funasa para darem assistência aos índios, mas nada acontece".

Tribos ampliam reivindicações

Uma pauta de reivindicações e um ofício foram enviados pelos índios na segunda-feira à Funai e a outras autoridades, reafirmando a intenção de continuar ocupando a Funasa até que alguém apareça com soluções concretas.
Uma das principais sugestões relacionadas no documento é que o pólo de Paulo Afonso seja transferido para Juazeiro com base na proximidade geográfica das aldeias.

Os índios pedem melhores condições de infra-estrutura para as aldeias, com assistência médica e carros disponíveis para locomoção de doentes. Para ficar nas terras determinadas pela Funai, "é preciso, também, que haja recursos para o plantio com aquisição de equipamentos e sementes" alegam os índios.

Sem energia - Segundo eles, no total, "são mais de 250 famílias vivendo sem água potável, sem energia, em casas de taipa, sem escolas nas aldeias e sem a presença de médicos, enfermeiros ou dentistas", garantem.
Numa entrevista, no dia 20 de junho, o chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) em Salvador, José Eduardo dos Santos Souza, informou que a Funasa já havia disponibilizado uma equipe médica, medicamentos, um carro com motorista e uma lancha para os índios. De acordo com ele, a parte de infra-estrutura só poderia ser feita com a homologação das terras.

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