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Índio doente vive drama em Belém

O Liberal-Belém-PA
19 de Out de 2004

Abrigados numa casa de Icoaraci, mais de 120 homens, mulheres e crianças de diversas tribos enfrentam a superlotação do imóvel e o transbordamento de fossas

Localizada no distrito de Icoaraci, a Casa do Índio enfrenta dificuldades. Problemas estruturais nas fossas sanitárias colocam em risco a saúde dos índios. Além disso, a quantidade de hóspedes já ultrapassa o dobro da capacidade permitida pela estrutura física. Atualmente, mais de 120 índios estão na casa quando o número deveria ser de, no máximo, 60 pessoas. Acontece que além dos índios em trânsito de diferentes tribos do Estado do Pará, a Casa hospeda doentes de várias faixas etárias que precisam de acompanhantes. Índios de Estados vizinhos como Amazonas, Tocantins e Amapá, por vezes, também se hospedam na casa de Icoaraci. Entre eles são comuns os casos de diarréias, gripe, tuberculose e doenças de pele.

Jorge Freire, que chefia o Distrito de Saúde Indígena (Disei) do Guamá-Tocantins (Guatoc) da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), disse que os técnicos da Divisão de Engenharia e Saúde Pública do órgão no Pará estão conduzindo os serviços de readequação e ampliação das fossas. Com os reparos será possível eliminar os problemas como vazamentos e transbordamentos das fossas sanitárias. As rachaduras fazem com que os dejetos fiquem expostos e o mau cheiro no local é constante. Como não há um sistema de escoamento o terreno fica contaminado e propício à disseminação de doenças. As chuvas agravam a situação. Jorge explicou que a demora ocorreu por conta da burocracia administrativa necessária para liberação de recursos financeiros.

O atendimento da saúde indígena no Pará está descentralizado através das Casas de Saúde (Casai) dispostas em distritos em quatro regiões do Estado: a Casai do Guamá-Tocantins (Guatoc), que prioriza o atendimento dos índios do nordeste e sudeste paraenses; a Casai de Altamira, que atende as tribos de Altamira; o Casai do Tapajós, em Itaituba, e a Casai Kaiapó, cuja sede fica em Redenção. Quando algum caso apresenta maior gravidade é encaminhado pela Funasa para o Casai Guatoc, onde, no momento, também estão hospedados indios Kaiapós, de Redenção, e os Mundurucus de Itaituba e Jacareacanga.

"Em Belém, a casa que atende índios é uma estrutura da Fundação Nacional do Índio (Funai) que está sendo adequada para receber não só índios em trânsito, que muitas vezes vêm à Belém apenas para resolver problemas relacionados a documentação, como índios com problemas de saúde. Embora a estrutura seja da Funai, é a Funasa que custeia as despesas de deslocamento, alimentação e manutenção", explicou Jorge.

Um dos problemas da quantidade de hóspedes é a quebra do orçamento. Segundo Jorge, um orçamento destinado para fazer o acompanhamento mensal de aproximadamente 50 índios está sendo utilizado para atender mais de 120. "A quantidade de acompanhantes aumenta muito os custos por índio em tratamento", comentou. A fim de minimizar o problema, a Funasa está trabalhando para garantir a descentralização mais eficiente de técnicos e serviços. Casos com diagnóstico de micoses, por exemplo, serão tratados na Casa de Saúde do distrito de apoio sem a necessidade de deslocamento dos doentes para Icoaraci.

Nem mesmo a criação de pólos de saúde no interior inibe o deslocamento

A chefe do Casai do Guatoc, Ana Tereza, explicou que as Casas de Saúde do Índio possuem pólos de apoio. No caso do Guatoc, os seis pólos funcionam nos municípios de Capitão Poço, Tomé-Açu, Paragominas, Tucuruí, Marabá e Oriximiná. Ana explicou que o Guatoc acaba fazendo o atendimento dos casos mais graves da população indígena do Pará e dos índios que estão em trânsito por outros motivos. A situação causa a superlotação. "Outro problema enfrentado é quando um caso de maior gravidade tem que se hospedar até que a ponte com a rede de saúde seja completada e o índio seja encaminhado para o internamento. Foi o caso de um índio da tribo Teko-Haw, com toxoplasmose vindo de Oriximiná, no mês de agosto", comentou a chefe do Casai, que afirmou, no momento, ter muitos casos de crianças com diarréia.

O cacique Martinho Burum-Imbá, da tribo Mundurucu, localizada no rio das Tropas, abaixo de Jacareacanga, no oeste do Pará, veio a Belém para fazer exames e descobriu que está com o fígado e o baço com tamanhos acima do normal. Enquanto faz o tratamento, sua esposa aguarda pela cirurgia na vista. O casal está desde meados de agosto na capital paraense e espera retornar em novembro para a tribo.

A tribo Mundurucu tem nove mil índios e 80% dela estão localizados na região de Jacareacanga. Nas proximidades, encontra-se a aldeia Sai-Cinza, que fica a 40 minutos de voadeira acima de Jacareacanga. Um de seus integrantes, o índio Mário Jorge está há três meses no Casai, em Icoaraci. Ambos os índios lamentam a situação do imóvel. "Aqui tem muito tapuru e o mau cheiro incomoda", comentou o cacique Martinho. Uma das hóspedes veio acompanhando o filho de três anos. Ela pertence a comunidade indígena Mapuera, da tribo Wai-Wai, em Oriximiná.

Obras - A última reforma da Casa do Índio de Icoaraci foi feita ano passado. A Funasa ampliou o número de leitos e reorganizou a estrutura de hospedagem. Alexandre Padilha, diretor do Departamento Nacional de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, disse que o recurso encaminhado para manutenção e custeio das unidades de saúde indígenas no Pará chega a cada três meses. Mas há dinheiro para as demandas extras

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