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Índio documenta índio

Diário de Cuiabá
Autor: Neusa Baptista
12 de Ago de 2006

Naine Terena, da etnia Terena, acaba de finalizar um audio-documentário baseado em histórias contadas por índios

A tradição oral é uma característica indígena amplamente conhecida. Ouvir histórias contadas pelos mais velhos é, através dos tempos, uma forma de conhecer e preservar a cultura entre as diversas etnias. A língua é o instrumento principal.

Com o mesmo objetivo, porém ferramentas mais modernas, a radialista Naine Terena, da etnia Terena, imortalizou, no áudio-documentário Quem chorará por nós”, fragmentos da história do povo Terena através do relato de três idosos da etnia: o ex-chefe Isaac Dias e os membros da comunidade Martin Gabriel e Lourdes Gabriel. Esta última, a única que chegou a morar fora da aldeia. O trabalho traz ainda o áudio da entrevista do primeiro professor da aldeia, o índio Pascoal Dias, captado em 1974 pelo indigenista Antônio João de Jesus.

O nome Quem chorará por nós” é inspirado num dos temas principais do trabalho, a manifestação denominada Saudação Lacrimosa” ou Choro Ritual”, realizada pelos indígenas.

A aldeia Limão Verde, no município de Aquidauana, Mato Grosso do Sul, terra natal da mãe de Naine, foi escolhida para as gravações. O Estado tem a maior população Terena do Brasil, cerca de 19 mil ao todo. Na Limão Verde vivem hoje cerca de mil índios.

Conservar o ponto de vista dos índios e não de quem os entrevista foi um dos principais cuidados tomados pela radialista. Ela comenta que, embora utilize a base teórica que adquiriu durante o estudo acadêmico, prevalece a versão do povo Terena. Daqui a 10 anos, as crianças poderão ouvir as histórias de seu povo assim como foram contadas pelos antepassados. Isso é o mais importante.”

A gente responde isso aí porque a gente tem que passar para nossos alunos, já que a senhora vai deixar uma cópia na escola. Se tiver na escola, melhor ainda porque a gente tá velho e a criançada precisa fazer a pesquisa, saber como aconteceu, como surgiu esse nosso lugarzinho”, confirma o ex-chefe Isaac Dias, em um trecho da entrevista.

Carreira – Filha de Terenas, mas nascida em Cuiabá, Naine resolveu voltar para sua terra de origem para resgatar uma história que, aos poucos, estava morrendo. O audio-documentário é parte de seu trabalho de sua dissertação Memória e Resistência”, realizado na UnB, onde ela cursa Mestrado em Artes. Outro fruto do trabalho é o vídeo-documentário Kohixoti Kiape: memória e resistência”, no qual ela retrata o cotidiano da aldeia Limão Verde, os preparativos e a execução da tradicional dança do bate-pau. As histórias não registradas, que foram contadas no passado, ficam com os mortos se não forem registradas. E a fotografia, o filme cumprem esse papel”, observa ela.

Prêmios - ´”Quem chorará por nós” é um dos três projetos de Mato Grosso contemplados na edição 2004/2005 do programa Petrobrás Cultural, na categoria patrimônio imaterial, tendo sido também aprovado pelo Ministério da Cultura, através da Lei Roaunet. O áudio-documentário será doado a 1.500 bibliotecas e escolas indígenas de todo o País pela Biblioteca Nacional. Nesta edição, o programa Petrobrás Cultural envolveu verba total de R$ 61 milhões, sendo R$ 45,5 milhões destinados a seleções públicas de projetos e R$ 15,5 milhões a iniciativas culturais de escolha direta da Petrobrás.

O projeto também concorre ao prêmio Rodrigo de Mello, do Iphan, na categoria preservação do patrimônio imaterial. A premiação final acontece em 31 de agosto.

Através dessa iniciativa podemos comprovar a habilidade dos produtores culturais mato-grossenses em explorar outros espaços e temas, que ultrapassam o âmbito regional”, finaliza Naine.

As entidades interessadas em receber o áudio-documentário devem entrar em contato pelo telefone (65) 3666 0343.

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