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Índio desaparecido é encontrado morto

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: CYNEIDA CORREIA
11 de Jan de 2003

O corpo de um homem, provavelmente o indígena Aldo da Silva Mota, que estava desaparecido desde o dia 02 de janeiro, foi encontrado na manhã de ontem a cerca de 1.500 metros da área da fazenda Retiro, município de Uiramutã, que pertence ao vereador Francisco das Chagas Oliveira, mais conhecido como Chico Tripa.

O encontro do cadáver aumentou o clima de intranqüilidade na região fazendo com que índios e não índios voltassem a entrar em conflito. O corpo estava em uma cova rasa e já vinha sendo comido por urubus quando foi encontrado por moradores da região.

O corpo foi encontrado por dois jovens, José da Silva e Estarle de Souza, que perceberam a movimentação dos urubus nas proximidades da casa sede da fazenda. Resolverem averiguar e acharam o cadáver enterrado numa cova rasa. A notícia foi repassada através de radiofonia ao Conselho Indígena de Roraima, que imediatamente comunicou à Polícia Federal e Funai (Fundação Nacional do Índio).

Segundo informações da administração regional da Funai, agentes da Polícia Federal e peritos do Instituto de Medicina legal deslocaram-se à fazenda para exumar o cadáver e fazer o translado para Boa Vista. A duração do vôo de Boa Vista até a pista de pouso da aldeia Maracanã II, mais próxima da fazenda, é de uma hora. É possível que só retornem amanhã.

Mais de 200 índios de aldeias da região das Serras estão acampados em frente à fazenda exigindo justiça. Tuxauas de comunidades de outras regiões de Raposa Serra do Sol estavam mobilizados para somarem-se nas buscas e podem deslocar-se para área a fim de prestar solidariedade aos parentes macuxi.

CIR - O assessor de comunicação do Conselho Indígena de Roraima, André Vasconcelos, informou que a forma como a situação está sendo conduzida está revoltando as comunidades indígenas do Uiramutã.

"A Funai e Polícia Federal foram comunicadas do desaparecimento do indígena e a PF solicitou apoio da Polícia Militar, que não procedeu uma busca minuciosa na área. Pelo contrário, preferiu acusar os índios de invadirem e fazerem reféns dois PMs, fato que nunca aconteceu. O vereador e posseiro Francisco das Chagas impediu o ingresso de indígenas na fazenda para auxiliarem nas buscas junto com a Polícia Federal e Funai", relatou Vasconcelos.

"O Delegado da PF, Fabrício Argenta, recusou-se a ouvir os parentes da vítima quando esteve no local e acatou todas as orientações do fazendeiro. Nós ficamos bastante revoltados com a forma como essas buscas foram feitas, pois os índios que só queriam ajudar foram ignorados", prosseguiu.

O assessor do CIR disse ainda que os povos indígenas de Raposa Serra do Sol estão em luto e revoltados com o assassinato de Aldo. "Os indígenas estão intranqüilos e revoltados com a forma que foi conduzida a averiguação. Aldo é mais um índio assassinado em Raposa Serra do Sol, sem que qualquer dos envolvidos seja punido", frisou.

"O Conselho Indígena de Roraima exige Justiça nesse caso que não é o único ao longo dos últimos 30 anos de luta pela terra indígena Raposa Serra do Sol. Em documento encaminhado do Ministro da Justiça, Márcio Tomáz Bastos, a organização pediu a retirada imediata dos invasores, a punição dos responsáveis e da Policia Militar da terra indígena", afirmou.

PM - O comandante da Polícia Militar, coronel Arnóbio Bessa, confirmou que um efetivo de 30 homens foi enviado para a área com o objetivo de auxiliar a Polícia Federal e evitar agressões entre índios e não índios. "Não houve seqüestro nem tomada de reféns como havia sido noticiado anteriormente, mas agora com o encontro desse corpo a tensão na região aumentou e vamos agir em apoio aos federais que estão trabalhando na área", explicou.

DESAPARECIDO - A confusão começou quando um garrote da comunidade indígena desapareceu e Aldo Mota foi procurá-lo na fazenda de propriedade do vereador Francisco das Chagas Oliveira (Chico Tripa), não retornando mais à comunidade.

Revoltados, os índios resolveram procurá-lo e cercaram o local, impedindo o acesso de trabalhadores e a entrada de policiais na área. O local havia sido tomado por pelo menos 70 índios, utilizando armas de fogo, facas e terçados. Eles exigiam a imediata desocupação das terras pelos proprietários, além de querer saber do paradeiro do indígena desaparecido, que suspeitavam havia sido morto por funcionários da fazenda.

BRIGA JUDICIAL - A "Fazenda Retiro" é objeto da Ação Civil Pública no 1999.1458-9, na qual os índios solicitam a reintegração de posse. Comunidades e posseiro fizeram um acordo judicial no qual as partes se comprometiam a respeitar os bens pessoais e patrimoniais de ambos até a solução definitiva do impasse. Com o crime os índios exigem a retirada imediata dos invasores.

A ocupação do vereador Francisco das Chagas fica a 11 quilômetros do vilarejo Mutum, uma das cinco vilas localizadas dentro da área Raposa Serra do Sol. Em todas elas, ocorrem constantes conflitos envolvendo índios, moradores, militares e outros posseiros.

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