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Índio critica monocultura do eucalipto

A Tarde-Salvador-BA
Autor: JESSÉ OLYMPIO
20 de Out de 2004

Cerca de 250 indígenas estão na Aldeia de Guaxuma discutindo os
impactos do plantio sobre as comunidades da região

ITAMARAJU (DA SUCURSAL EXTREMO SUL) - Cerca de 250 índios
interditaram ontem a BR 101 nas proximidades da cidade de Itamaraju,
provocando um engarrafamento de mais de 15 quilômetros. O protesto
teve início durante um seminário de lideranças indígenas de várias
partes do País que estão reunidas na Aldeia de Guaxuma, município de
Itamaraju, desde segunda-feira, para discutir os impactos da
monocultura do eucalipto sobre as comunidades indígenas do extremo
sul do Estado.

O encontro acabou se transformando em um protesto, a partir do
momento em que representantes da Funai, dentre eles um procurador
federal, chegaram com o comunicado do retorno da Polícia Federal para
um reintegração de posse da Fazenda Santa Luzia. A propriedade fora
retomada em junho deste ano, pela comunidade Pataxó do Córrego da
Cassiana, localizada no Parque Nacional do Monte Pascoal, no
município de Porto Seguro.

Os representantes da Funai chegaram à aldeia de Guaxuma no final da
manhã de ontem e fizeram uma reunião paralela ao seminário,
esvaziando a plenária, o que revoltou, de imediato, as lideranças. A
programação prevista foi interrompida e os índios, então, resolveram
fechar a rodovia, além de reterem os servidores federais.

"O procurador Fábio Cavalcanti tem se mostrado amigo da causa
indígena, então ele ficará com a gente até que o presidente da Funai
ou o ministro da Justiça venha até aqui para solucionar o problema da
comunidade do Córrego da Cassiana e outras questões bem antigas. Aqui
na nossa aldeia ele será bem tratado, terá sua cama, comida, água e,
se precisar, a gente manda comprar refrigerante", declarou o cacique
Manoel Vaqueiro.

Ao justificar sua presença, o procurador Fábio Cavalcanti disse que
não sabia do evento e que não tinha a intenção de desrespeitar as
comunidades. "Mas não entendo isso como um convite, apesar de
respeitar a decisão das lideranças".

MONOCULTURA - Além da retenção dos servidores da Funai, a BR 101,
segundo as lideranças indígenas, ficará interditada até a chegada do
representante do Governo Federal, com poder de negociar
politicamente. "Estamos cansados de palavras bonitas. Vamos resistir
aos fazendeiros que querem as nossas terras para o fomento do
eucalipto e não vamos abrir mão dos nossos direitos. A gente prefere
morrer lutando por nossa terra que ir morar em uma favela", disse o
índio Alvaí Pataxó.

Dançando o toré, os índios pataxó, xacirabá, maxakali, tupinanbá,
pataxó hãhãhãe, karajá e apinajé, representando etnias da Bahia,
Minas Gerais, Mato Grosso, Tocantins e Espírito Santo, ocuparam a BR
101 e, em poucos minutos descarregaram na pista toras de eucalipto
que estavam sendo transportadas por carretas da Veracel Celulose e
fizeram fogueiras. A polícia Rodoviária Federal esteve no local
apenas para evitar acidentes, pois, segundo os policiais, somente a
Polícia Federal poderá atuar na desobstrução da rodovia.

De acordo com a Frente de Resistência e Luta Pataxó, responsável pela
organização do seminário, hoje, as palestras irão continuar
paralelamente ao protesto. "As empresas de celulose vêm
desrespeitando a legislação ambiental, plantando eucalipto nas áreas
de preservação, prejudicando a flora, a fauna e a nossa vida", disse
Aguinaldo Pataxó Hãhãhãe.

Salientando que, "a terra, daqui a 20 anos não prestará mais para
nada e, só assim, a Funai vai concluir um estudo sobre a situação
indígena na região. Estamos esperando por isso há cinco anos. É uma
enrolação, e essa demora facilita a monocultura nas terras que
tomaram de nós. Mas vamos resistir e lutar para que fiquem para os
nossos filhos", enfatizou Aguinaldo Pataxó. Até o fechamento dessa
edição, a situação continuava a mesma na BR 101.

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