VOLTAR

Índio acreano é indicado para presidência da Funai

A Tribuna -Rio Branco-AC
Autor: Neide Santos
27 de Ago de 2003

A nomeação do suplente de senador pelo PC do B, Antônio da Silva Apurinã, para a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), conforme indicação feita por lideranças indígenas, pode representar um marco na história, tendo um indígena, e acreano, pela primeira vez à frente da maior instituição que atua em defesa da causa indígena.

O nome de Antônio Apurinã vem sendo cogitado nas últimas semanas, desde a exoneração de Eduardo Aguiar de Almeida, último a deixar a presidência da Funai. Há grandes chances de que venha a ser aceito por se tratar de uma das lideranças indígenas mais respeitadas no país.
Tem grande peso o fato de ser indicação de lideranças indígenas da região Norte - principalmente do Acre e Amazonas - onde o movimento indígena vem conquistando grandes avanços em diversas áreas graças à organização social e conseqüente fortalecimento político.
Em que pese a importância dessa nomeação, que de fato coloca o indígena à frente do maior segmento em defesa de sua causa, há também dúvidas dentro do movimento indígena que teme um possível desgaste de um nome como o de Antônio Apurinã, num órgão que não desempenha o papel para o qual foi criado por problemas estruturais.

Antonio Apurinã

Orgulha-se de ter se formado no movimento indígena nesses 20 anos que deixou sua comunidade, na aldeia Camicuã, em Boca do Acre, para vir para Rio Branco fazer parte das primeiras articulações em prol do movimento indígena.

Nessas duas décadas passou por três mandatos na coordenação da UNI. Foi chefe de posto em Boca do Acre e trabalhou no Departamento de Antropologia Indígena da Ufac.

Hoje com 43 anos, é pai de quatro filhos e casado com Letícia Luíza Yawanawa. Antônio ocupa a chefia do Departamento de Assistência da Funai, em Brasília.

Pronto para o desafio

"Estou pronto se for essa a vontade do movimento indígena", afirmou ontem o suplente de senador, Antônio Apurinã, que atualmente chefia o Departamento de Assistência da Funai.

Sobre insegurança de queimar o nome de uma liderança indígena, que é suplente de senador na administração de um órgão que passa por sérios problemas, como a Funai, Antônio pondera não ser possível se eximir se for esse o interesse do movimento. Portanto, a solução é colaborar para que as mudanças ocorram e a Funai de fato cumpra o seu papel.

"O índio esteve à frente das principais conquistas em prol de nossa causa e certamente pode estar à frente de mais esta", conclui.

Na audiência marcada para ontem à tarde entre lideranças indígenas e o ministro da Justiça, Márcio Tomaz Bastos, seria efetivada a indicação de Apurinã e cobrança sobre a posição do governo Lula sobre a definição, já que a Funai está sem presidente nomeado desde o dia 18 de agosto.

Crise na Funai

O próprio movimento indígena reconhece que a Funai não consegue cumprir o seu papel de fomentador de desenvolvimento de políticas públicas, de fazer valer os direitos indígenas, controle da biopirataria e outros devido à visão equivocada de alguns grupos indígenas que continuam presos à prática do assistencialismo.

O órgão também enfrenta grandes carências de investimentos em materiais e capacitação de recursos humanos. Aliado a essas questões, vem o peso fundamental que é a inexistência de uma política indigenista forte, tendo como exemplo o estatuto do índio que há 11 anos vem sendo discutido sem que haja encaminhamento para aprovação.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.