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Indigenista assassinado sofria ameaças

JB, País, p. A6
12 de Out de 2004

Indigenista assassinado sofria ameaças

Hugo Marques

O indigenista Apoena Meireles - assassinado com dois tiros sábado, em Porto Velho (RO) - ia fazer ontem os exames para obter porte de armas. Segundo um assessor da presidência da Funai, o indigenista reclamou de perseguições nos últimos dias. Apoena estava no grupo de trabalho criado mês passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para coibir exploração mineral em terras indígenas.
As ameças ocorreram depois que o governo criou o grupo de trabalho, uma resposta ao conflito na área indígena Roosevelt, em Rondônia, onde os índios mataram 29 garimpeiros em abril. O vice-presidente da Funai , Roberto Lustosa, afirmou que o Ministério da Justiça estuda conceder poder de polícia aos funcionários da instituição.
Ontem, parentes, amigos e funcionários da Funai homenagearam Apoena em Brasília. Uma das filhas do indigenista, a assistente financeira Tainá Meireles, de 28 anos, mora na Suíça há sete anos e veio ao Brasil no fim de semana, assim que foi avisada da morte do pai.
- Ele sempre falou que queria morrer cedo. Ou de flechada, ou com uma bala no peito, trabalhando pelos índios - contou Tainá.
O assassinato de Apoena revoltou comunidades indígenas. Três caiapós prestaram homenagem a Apoena com cânticos em volta do caixão. Um dos representantes da Amazônia, o índio Álvaro Tucano, lamentou que o governo não acelere a demarcação de terras indígenas para diminuir os conflitos:
- Está claro que o assassinado foi a mando de garimpeiros de Rondônia. Os mandantes do crime têm de ir para a cadeia.
O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, afirmou que, mesmo as investigações apontando para latrocínio, todas as hipóteses serão investigadas. Por determinação do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, a Polícia Federal acompanhará as investigações.
O corpo de Apoena chegou ontem à tarde ao Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, onde será enterrado hoje às 10h. Sua irmã, Lídice Meireles, reforçou a suspeita de que o assassinato esteja ligado ao conflito na reserva Roosevelt.
- Apoena sofria pressões para entregar as áreas ricas em minério. Sua morte reflete a falta de apoio a quem trabalha com índios no Brasil.
Com Bernardo Mello Franco

JB, 12/10/2004, País, p. A6

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