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Indígenas querem participar de tomada de decisões em seus países

24 Horas News-Cuiabá-MT
09 de Ago de 2004

Dezenas de indígenas de todo o mundo pediram hoje, segunda-feira, no Fórum de Barcelona, que seus povos sejam incluídos por seus respectivos países nos processos de tomada de decisões, mas sem renunciar a sua identidade e a suas tradições.

O Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado hoje no Festival Mundial da Juventude do Fórum, serviu, além disso, para denunciar que só dois dos 45 pontos da Declaração dos Povos Indígenas, que deveria ser aprovada este ano pela ONU, foram aprovados por seus países-membros.

O chefe do Escritório para os Povos Indígenas do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, Julian Burger, disse que o direito à autodeterminação e a que os nativos utilizem os recursos naturais de seus territórios são os principais impedimentos à Declaração, que foi negociada durante a última década entre os países-membros da ONU.

"Os dois artigos aprovados se referem a direitos individuais, ao reconhecimento dos indígenas a serem cidadãos de seus países e a igualdade entre homens e mulheres. Mas os 43 restantes, que se referem aos povos indígenas como sujeitos coletivos, encontram muitas dificuldades", disse Burger, que lembrou que cerca de 300 milhões de aborígines perderam suas terras no mundo todo.

O Fórum acolheu o debate "Povos indígenas: quem somos e o que queremos?", no qual um nutrido grupo de indígenas de países como Burkina Fasso, Canadá, Peru, Filipinas e Groenlândia pediram sua participação nos processos de tomada de decisões em seus países.

Odilón Candía, indígena quíchua do Peru, lamentou que, para poder se sentirem incluídos em seu país, muitos índios da região andina tenham tido que renunciar a sua identidade e a suas origens.

O representante da comunidade quíchua disse que os distintos governos do Peru e as grandes empresas exploraram e depredaram os indígenas, "agravando a pobreza extrema e a desestruturação" das comunidades autóctones.

Upaluk Poppel, uma jovem inuit da Groenlândia, reivindicou o direito de seu povo a recuperar seus territórios e advertiu que "a colonização não acabou", pois as mentes dos indígenas "também estão colonizadas".

Maya Mollen, da comunidade innu-montagnese do Canadá, denunciou que os indígenas de seu país foram vítimas constantes da "colonização, eliminação e discriminação".

Por sua vez, Daniel Domingo López, representante da comunidade maia da Guatemala, denunciou que os direitos dos povos indígenas de seu país sofreram um "retrocesso" sob o governo do presidente Oscar Berger, que assumiu o poder no começo do ano.

López, membro do Conselho de Educação Maia, explicou à EFE que o governo de Berger gerou uma grande "desilusão" entre os povos indígenas guatemaltecos.

"Tinha-se criado muitas expectativas, disse López, pois o governo anterior esteve caracterizado pela repressão e a exclusão, mas agora estamos muito desiludidos porque vimos que as políticas de Berger são as mesmas ou piores que as de antes".

López mencionou os esforços do governo para impulsionar o Plano Puebla-Panamá, que prevê criar um pólo industrial que una o sul do México aos países centro-americanos.

"É um grande projeto econômico que vai destruir a natureza e os indígenas. Não temos nada a ver com estas decisões. Não fomos consultados, mas os projetos serão implementados em nossas terras", disse López.

O líder indígena explicou que no final deste ano, com o apoio de ONGs de vários países, começará a funcionar a primeira universidade maia com o objetivo de difundir a língua, cultura e tradições desta civilização milenar.

Os aborígines de cerca de trinta países participaram do Fórum com um vasto programa de danças, oficinas e conferências para reivindicar seus direitos e mostrar aos visitantes suas tradições, como danças maias da Guatemala, histórias quíchuas do Peru e conversas da comunidade Truká do Brasil.

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