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Indígenas que moram na zona urbana de Manaus reclamam de discriminação

Portal da Amazônia - http://portalamazonia.globo.com/noticias.php?idN=81350&idLingua=1
Autor: Raphael Cortezão
05 de Abr de 2009

MANAUS - Integrantes de tribos indígenas que vivem na área urbana de Manaus enfrentam dificuldades para conseguir emprego e sofrem preconceito em escolas, órgãos públicos e nos próprios bairros onde moram.

- Eu demorei muito para conseguir um emprego. Em todos os lugares que ia, quando sabiam que eu era indígena, eles tratavam de me dispensar. Consegui emprego porque recorri aos representantes do movimento indígena - contou uma assessora especial da Fundação Estadual de Política Indigenista do Amazonas (Fepi), Lindomar Silva, conhecida como Linda Marubo.

Ela relata que saiu da aldeia 'Maronal', na região de fronteira do Acre com a Colômbia, no Alto Solimões, e já passou por cidades como Cruzeiro do Sul, no Acre, e Porto Velho, capital de Rondônia, até chegar a Manaus.

Em todos os lugares, segundo ela, foi difícil ser aceita pelos moradores das cidades. "Somos discriminados de várias formas, desde o acesso à educação até o impedimento de realizarmos nossos rituais conforme nossa cultura".

Mesmo fazendo parte de um órgão estatal ligado à preservação da identidade indígena, Linda Marubo afirma que seus filhos não se identificam como indígenas na escola onde estudam. "Se a vida já está difícil sem eles se identificarem, imagine se eu chegar lá e disser que eles são índios? Certamente as outras crianças vão caçoar deles", justificou.

Expectativa

A maioria dos povos indígenas que vive hoje na capital amazonense veio em busca de uma vida melhor. As famílias da etnia Sateré-Mawé, que ocupam uma área verde do conjunto Santos Dumont, bairro da Paz, zona Oeste, são um exemplo da migração de povos indígenas do interior do Estado para Manaus, diante da expectativa de emprego e melhores condições de vida.

- Minha família veio para cá, há 20 anos, com promessa de que tinha muito trabalho e saúde. Quando chegou aqui, passou o maior aperto, porque, na verdade, o trabalho era pra quem tinha instrução, e a maioria deles mal sabia ler - contou o cacique Moisés Sateré, que coordena a comunidade formada por seis famílias indígenas, com 48 pessoas, ao todo. Sem lugar para morar, eles decidiram invadir a área na qual vivem até hoje.

Na época, segundo Moisés, os moradores não queriam indígenas na vizinhança. "Quando descobriram que a gente era índio, eles fizeram de tudo pra tirar nosso povo daqui. Por onde nossos filhos passavam, ouviam gracinhas, tiravam sarro da cara deles", lembrou o cacique, ressaltando que, aos poucos, os Sateré conseguiram conquistar a confiança dos moradores do Santos Dumont.

Discriminação

Na escola, o problema se agravava. "Várias vezes nossas crianças chegaram chorando porque foram destratadas na escola. Faz parte da nossa cultura sairmos pintados, com colares e adornos, e isso espantava as pessoas", disse Moisés.

Ele conta ainda que, apesar de ter diminuído após um trabalho de esclarecimento realizado no bairro e nas escolas, a discriminação ainda existe. "Ano passado fui chamado pela diretora por causa de discriminação. A única coisa que posso fazer é tentar convencer os 'brancos' que nós somos iguais a eles em tudo".

Conscientização

O trabalho de conscientização tem obtido bons resultados. Todos os anos, os Sateré-Mawé se reúnem para celebrar o ritual da tucandeira, sempre no dia 19 de abril.

Para minimizar a distância entre os índios e a vizinhança, Moisés convida os moradores para presenciar o ritual de passagem do jovem indígena para a vida adulta. "Isso aumentou até nossas vendas de artesanato, porque as pessoas não têm mais medo de vir até aqui", disse.

Apesar de comemorar o bom resultado no bairro, o cacique da aldeia Yapyrehyt (que significa terceira luva da tucandeira) afirma que ainda sofre preconceito em ônibus, órgãos e lugares públicos. "Quando a gente está na parada de ônibus no Centro, por exemplo, com nossa pintura, nossas penas, muita gente fica olhando. Uns com olhar de curiosidade, mas a maioria olha com discriminação", afirma.

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