VOLTAR

Indígenas festejam casamento em Manaus mesmo com "apagão"

Portal Amazônia - http://migre.me/bMYX
16 de Nov de 2009

MANAUS - Nem mesmo as constantes quedas de energia e a escuridão que durou mais de quatro horas afastaram os convidados e tiraram o brilhantismo do ritual que marcou o casamento de Raimundo Alves Mura e Zilda Moura Canamari, na noite do último sábado (14), no assentamento indígena da comunidade Lagoa Azul, na Zona Norte de Manaus.

Apesar da longa espera, o casal foi abençoado pelos caciques Antônio Mota Arara e Sebastião Kokama, numa cerimônia que teve desde o tradicional peixe assado na brasa e a bebida fermentada caxiri, à presença de autoridades como o secretário de Estado para os Povos Indígenas, Jecinaldo Sateré-Mawé, o coordenador regional da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Worney Amoedo, e lideranças indígenas de sete povos do Amazonas.

O relacionamento, que começou há dez anos, finalmente foi oficializado e resumido numa simples frase: "eu aceito", que na língua mura significa "ala kamá", e na canamari, "ate sam aibari".

Benefícios

Durante o casamento, o titular da Seind anunciou alguns benefícios que a secretaria pretende levar até os indígenas da Lagoa Azul, com o apoio do Governo do Estado, para tentar amenizar as dificuldades enfrentadas por quem mora no local.

- Criamos a Gerência de Apoio ao Índio da Cidade, com dois jovens indígenas à frente (Denísio Tikuna e Ageu Sateré), e com certeza vamos atacar alguns problemas que afligem a comunidade, entre eles o de moradia e o de saneamento básico - afirmou Jecinaldo.

Para o secretário, o ritual de sábado demonstra mais uma vez o fortalecimento dos povos, da cultura indígena. "Apesar de estarmos na capital, em plena metrópole que é Manaus, presenciamos uma festa bonita que faz com que reflitamos sobre a necessidade de cada vez mais estarmos unidos para conquistar as coisas para o nosso povo", afirmou o titular da Seind.

Emoção, dança e muito caxiri

Realizada nos moldes tradicionais, o ritual que uniu Raimundo Mura e Zilda Canamari reuniu, num pequeno e aconchegante terreno dos kokama, o que os indígenas costumam chamar de parentes.

Os integrantes e simpatizantes do movimento indígena se aglomeraram em meio à escuridão, desde o início da noite até por volta das 21h15, quando a energia elétrica foi reestabelecida e o casamento pôde ser realizado.

Não faltaram caxiri, peixe, frango assado na folha de bananeira e danças tradicionais que misturaram crianças, jovens, adultos e idosos, embalados por muitos cantos indígenas.

Um dos caciques a abençoar o casal, "sêo" Antônio Mota, da etnia Arara, ficou emocionado com a cerimônia. "Peço que Deus abençoe o trabalho de todos e agradeço pela oportunidade de estar aqui para fazer parte dessa festa", disse.

Harmonia e prosperidade

Raimundo, de 39 anos, nasceu na Aldeia Murutinga, localizada no Lago do Tawari, em Autazes. Zilda tem 33 anos e pertence ao povo Canamari, do rio Juruá, no Alto Solimões.

Para o casal, a união entre eles representa paz, harmonia e prosperidade para os dois povos. "É uma grande conquista para que todos os povos se unam. Falta muita coisa, mas confiamos em Deus e vamos conquistando aos poucos", afirmou Raimundo, vice-tuchaua em Tawari e tuchaua em Canamari, no ramal Jericó, quilômetro 144 da AM-010.

- Agradeço aos parentes que vieram de Rio Preto da Eva, os canamaris, saterés, ticunas e tucanos. Estou muito feliz e mais firme do que nunca no movimento indígena, que para nós começou há oito anos e vai continuar com nossos filhos, netos, bisnetos...- completou Zilda, que é conselheira local de saúde na Aldeia Tawary, em Autazes. (RC)

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.