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Indígenas entram em conflito com a Polícia Militar em Manaus

O Globo - http://migre.me/nb2r
Autor: Paula Litaiff
10 de Mar de 2010

MANAUS - Mais de 600 pessoas, sendo a maioria indígenas, entraram em conflito nesta terça-feira com a Polícia Militar (PM) do Amazonas durante desapropriação de terras na comunidade Parque São Pedro, na Zona Oeste de Manaus. Pelo menos três pessoas ficaram feridas. Um homem foi atingido com uma bala de borracha no rosto, uma mulher indígena desmaiou depois de inalar gás lacrimogêneo e um policial militar teve queimaduras leves. Os três foram levados ao hospital e passam bem.

Os posseiros estavam no terreno há dois meses. O local, de 40 mil metros quadrados, já estava tomado por 152 casas de madeiras e papelão.

Na semana passada, a proprietária do terreno, a empresária Francisca Lobato, entrou com um mandado de desapropriação na Justiça do Amazonas e teve seu pedido deferido. A PM informou que tentou cumprir a ordem judicial sem usar a força, mas foi impedida pelos posseiros de entrar no terreno.

Os invasores fizeram uma espécie de barricada de fogo no entorno das terras, usando álcool, pedaços de pneus e madeira. Ao ver os PMs, eles lançaram flechas, bombas caseiras, pedras e pedaços de madeira.

A dona de casa Ana Maria Kambeba, de 41 anos, informou que os invasores só tiveram essa atitude, porque receberam ameaças dos PMs.

- Eles chegaram gritando dizendo que iam atirar balas de fogo se o povo não saísse das terras. Ficamos com medo e tentamos nos defender - relatou.
Líder alega que grupo foi procurar emprego em Manaus

Ao entrar nas terras, cerca de 350 soldados usaram armas de efeito moral. Eles lançaram gás lacrimogêneo e atiraram balas de borracha. Também foi utilizado um helicóptero com quatro policiais para atirar munição de borracha na multidão.

Só depois de duas horas, os dois grupos chegaram a um acordo e os invasores concordaram em deixar o local.

" Somos do interior do Amazonas e viemos buscar emprego em Manaus "

A líder do grupo, Maria de Jesus Torres, disse que os posseiros se recusaram a sair do terreno particular, porque não teriam 'para onde ir'.

- Somos do interior do Amazonas e viemos buscar emprego em Manaus - disse.

Segundo Maria de Jesus, os 605 posseiros estão divididos em 200 famílias, sendo 118 delas pertencentes às etnias Kokama, Kauamari, Ticuna, Baré, Apurina, Baterê, Mura e Kambeba.

Indígenas ficarão na Funai até serem incluídos em programa do governo

O secretário de Estado para os Povos Indígenas, Jecinaldo Sateré-Mawé, informou que os indígenas retirados foram levados para a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Manaus, e vão receber ajuda financeira do governo do Amazonas.

Jecinaldo prometeu incluir as famílias num programa de moradia estadual num prazo máximo de três meses.

- Vamos analisar caso a caso e de que forma serão adaptados ao programa de moradia. De imediato, precisamos resolver os casos de extrema necessidade dessas famílias - declarou o secretário.

Já os outros posseiros foram levados para abrigos do governo do estado, outros retornaram para casas de amigos na capital.

Essa não é a primeira vez que um grupo de indígenas entra em conflito com a polícia em Manaus. No dia 8 de abril do ano passado, 59 famílias indígenas foram retiradas da comunidade Lagoa Azul, na rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara). Um ano depois, elas receberam casas populares do governo.

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