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Indígenas do Amazonas participam de 'círculo de saberes' no Itaú Cultural, em São Paulo

A Crítica- http://www.acritica.com
Autor: Rosiel Mendonça
28 de Set de 2016

Um raro encontro entre escritores e realizadores audiovisuais indígenas de várias partes do Brasil vai acontecer a partir desta quarta-feira, no Itaú Cultural, em São Paulo. E entre os participantes do círculo de saberes "Mekukradjá" (palavra de origem caiapó que significa sabedoria e transmissão de conhecimento) estarão dois escritores e ativistas amazonenses: Roni Wasiry, que pertence ao povo Maraguá, e Márcia Kambeba.

O evento, que segue até sexta-feira, contará com rodas de debate e leitura, apresentações tradicionais e exibições de filmes. Um dos curadores do encontro é o escritor Daniel Munduruku, com quem a reportagem conversou por telefone. Segundo ele, o "Mekukradjá" veio para integrar ideias e artistas.

"Precisamos criar uma rotina de debates entre essas duas formas de produção artística, a literatura e o audiovisual, para discutirmos o estado atual dessas artes em sua expressão indígena e como ela tem se realizado no Brasil", diz o escritor, formado em Filosofia e doutor em Educação pela USP.

Daniel celebra o pioneirismo de um evento que une duas pontas da atual produção indígena. "São duas linguagens que cresceram bastante nos últimos anos. A literatura é relativamente mais expressiva, até por exigir menos equipamentos do que o audiovisual, que envolve tecnologias mais sofisticadas", justifica, ressaltando os caminhos que foram abertos por políticas e editais públicos voltados aos autores indígenas.

Oralidade

No primeiro dia de programação, Daniel dividirá a mesa "Faces da oralidade: escrita e imagem" com Roni Wasiry, Ailton Krenak, Alberto Álvares e Patricia Ferreira. No centro do debate estará a atualização da oralidade, base da cultura tradicional indígena, a partir de linguagens e instrumentos mais complexos.

"Historicamente, o indígena sempre foi retratado a partir de um olhar externo. O que diferencia a fase atual é que ele passa a falar de si e do seu povo a partir do seu próprio ponto de vista", explica. O tipo de produção, no entanto, varia bastante. Enquanto a literatura tende a se voltar mais para a ficção e para o segmento infantojuvenil, o audiovisual se detém em aspectos mais documentais, registrando os modos de vida.

Daniel acredita que o impacto que isso terá em longo prazo na cultura ancestral ainda é difícil de ser medido, mas ele se mostra otimista. "Obviamente, não é algo negativo, e também não é absolutamente positivo. Mas acho significativo que o indígena possa romper com sua tradição cultural para fazer uma leitura da sua própria identidade a partir de outras linguagens. Muitos outros escritores e realizadores vão surgir, refinando ainda mais o olhar dessas populações sobre si mesmas".

Desafios

Considerada um gargalo, a circulação dessas obras em segmentos mais amplos da sociedade também será um dos temas a serem discutidos no Itaú Cultural. Daniel Munduruku aponta que, no caso da literatura, as obras acabam ficando restritas às escolas, dependendo da aquisição por parte de prefeituras e governos. "O grosso da circulação, que alimentava inclusive o mercado editorial, acontecia por meio dos editais, mas em função da crise isso acabou sendo afetado".

Segundo ele, um problema ainda verificado nas escolas é a subutilização desse material, já que muitas vezes os professores não são preparados para trabalhar com as obras indígenas em sala de aula. "Queremos perceber onde está o nó dessa difusão para que possamos alcançar todos os cantos do Brasil e diminuir a visão estereotipada que ainda se tem sobre a população indígena", conclui Daniel.

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