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Índias querem igualdade

Amazonas em Tempo-Manaus-AM
28 de Abr de 2004

Vindas de diferentes municípios do Amazonas, 24 lideranças indígenas femininas, entre mulheres caciques, presidentes de associações, representantes de organizações de aldeias e moradoras de Manaus participaram ontem do encerramento do curso "Direitos e Saúde das Mulheres Indígenas". Promovido pela Fiocruz e pelo Projeto Rede Autônoma de Saúde Indígena (RASI) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), o curso durou dois dias, e teve como um dos objetivos iniciar a elaboração de um perfil da saúde indígena feminina na região.

"Não temos ainda um perfil suficientemente organizado da saúde da mulher indígena, traçaremos passos para tentar elaborar um perfil, pois essa é uma pesquisa que leva tempo", avalia a coordenadora de ensino da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Luiza Gannel.

Dando continuidade ao evento voltado para a cultura indígena, hoje começa o "Simpósio Estados Nacionais, saúde e as mulheres indígenas na Amazônia: políticas públicas, cultura e direitos reprodutivos no contexto Pan Amazônico". O evento é promovido pela Associação Brasileira de Antropologia em parceria com Fiocruz e com Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI).

Problemas epidemiológicos como malária, tuberculose, infecções respiratórias agudas e desnutrição estão entre as doenças que mais afligem a mulher indígena na Amazônia. "No simpósio, discutirmos aspectos sócio-culturais, epidemiologicos, problemas de saúde e as questões políticas", explica Luiza.

A professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Bernadete Grossi dos Santos, destaca que ao se discutir a saúde indígena da mulher, é necessário tratar a questão do "gênero". "A questão da violência, por exemplo, não pode ser tratada apenas como uma questão da mulher. Também é necessário tratar o problema com relação ao homem. É preciso verificar os elementos que motivam o homem a agir assim. O gênero, então, não significa o corpo físico feminino ou masculino, mas o papel social que envolve cada um dos dois", avalia.

Além de sofrerem com o preconceito por serem indígenas, mulheres pertencentes às diversas etnias do Amazonas também enfrentam barreiras dentro das próprias aldeias onde vivem. Principalmente nas aldeias, o machismo ainda é muito forte, fazendo com que mulheres passem da tutela do pai para o domínio do marido, sem qualquer opção de escolha.

Lideranças indígenas femininas, no entanto, apontam para uma mudança de valores. Na avaliação delas, cada vez mais as mulheres compreendem a importância do papel que devem exercer para conquistar uma vida mais digna para seus povos.

"Ainda sofremos discriminação, mas estamos despertando para buscamos autonomia e tomar decisões", avalia a dessana Corina Maria Machado, coordenadora da Associação de Arte e Cultura Indígena do Amazonas, do município de São Gabriel da Cachoeira (AM).

Igualdade

Representante da Associação dos Povos Indígenas do Tumucumaque do Amapá, Valéria Paya (foto), da etnia tirió kaxuyaba, afirma que os homens costumam observar com desconfiança a presença feminina nas organizações indígenas. "Somos vistas como alguém que compete com eles, mas o que queremos é somar nossa força a deles", avalia.

Pertencente a etnia carapasso, Rosemere Teles, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), destaca a importância da discussão da problemática da saúde da mulher indígena para se encontrar soluções para a questão. "Cada povo indígena tem suas características próprias, e por isso precisamos desse momento de troca de experiências", avalia.

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