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Índias de Mato Grosso não têm câncer de mama

Diário de Cuiabá
Autor: ALECY ALVES
10 de Ago de 2001

Estudiosos querem descobrir por que nenhum caso jamais foi registrado em aldeias

Uma equipe de médicos brasileiros, coordenada pelo oncologista cuiabano Guilherme Bezerra, começou a pesquisar esta semana por que não há casos de câncer de mama entre as índias não miscigenadas das aldeias mato-grossenses.Desde 1957, quando começaram a registrar os procedimentos de saúde feitos nas aldeias, não há registro da doença, enquanto outros tipos são diagnosticados nas mesmas proporções da população branca, a exemplo das patologias crônicas generativas como diabetes, hipertensão, artrite reumatóide e obesidade.Há sete anos, Guilherme Bezerra desenvolve pesquisas com os índios xavantes da aldeia da Sangradouro, que fica no município de Primavera do Leste (260 quilômetros de Cuiabá). Mas desde que se especializou em oncologia, há 18 anos, Bezerra atende índias em unidades públicas de saúde de Cuiabá e do interior.Além da ausência do câncer de mama, no encontro das informações de outras pesquisas científicas o especialista descobriu que em Mato Grosso todos os índios de raça pura são do tipo sangüíneo O positivo.Agora, unido a outros especialistas, Guilherme Bezerra quer tentar descobrir que fatores genéticos estão vinculados a essa proteção ao câncer de mama e se há alguma relação com o tipo sangüíneo. Conforme Bezerra, aqui estaria o único grupo populacional do mundo com o mesmo fator RH.Fazem parte da equipe os patologistas José Russo, argentino naturalizado norte-americano, do Fox Chase Câncer Center, da Filadélfia, nos Estados Unidos; Fernando Schimitt, brasileiro que atua na Universidade de Porto, em Portugal, e é membro do Instituto Karolins, de Estolcomo, na Suécia; e o oncologista que trabalha com biologia molecular Ismael Guerreiro, da Escola Paulista de Medicina.Nos próximos dias, os pesquisadores vão começar a coletar amostras de sangue das índias para fazer o seqüenciamento do DNA e em seguida comparar com os resultados de exames semelhantes feitos em mulheres brancas de famílias com riscos elevados para o desenvolvimento da doença.As pesquisas devem durar cerca de dois meses, mas Bezerra acredita que muito antes disso, provavelmente em seis meses, poderão apresentar os primeiros resultados. A expectativa dos médicos é que descubram a cura ou pelo menos um tratamento mais eficaz para a doença que todos os anos mata mais de 400 mil mulheres no mundo, de uma média de 1 milhão de novos casos diagnosticados.De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 9 mil mulheres morrerão de câncer de mama este ano somente no Brasil. Esse índice corresponde a um terço dos casos diagnosticados (estima-se que serão 30 mil).Nessas pesquisas, ponderou Bezerra, esperam entender melhor a doença para que possam combatê-la de forma mais eficaz. É como numa luta. Temos que conhecer os inimigos e suas armas para definirmos nossas estratégias, completou, observando que ainda não sabem onde vão chegar, mas alimentam boas perspectivas em função das diferenças observadas e do interesse de organizações de saúde nacional e internacional pela pesquisa.Parceria permitiu criação de centro
Desde que iniciou as pesquisas na aldeia, há sete anos, o oncologista Guilherme Bezerra pensava em levar os dados para os laboratórios, mas queria que as pesquisas fossem desenvolvidas em Mato Grosso. O problema, recordou, era a falta infra-estrutura física e tecnológica.Para resolver a questão, firmou parcerias com os dois patologistas, outros oncologista e o Hospital Santa Rosa, o que possibilitou a criação do Molecular Câncer Research Center, ou Centro de Pesquisa Molecular em Cancerologia, em Cuiabá. Já investiram nele cerca de US$ 50 mil, ou R$ 120 mil, e prevêem investimentos que podem ultrapassar R$ 200 mil nos primeiros dois anos.Em contrapartida à abertura da aldeia de Sangradouro para a pesquisa, o Centro de Pesquisa firmou convênio com a Funai assegurando assistência médica a todos os índios da comunidade.

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