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Indiana Jones da causa ambiental

OESP, Caderno 2, p. D9
Autor: COUSTEAU, Philippe
24 de Jun de 2012

Indiana Jones da causa ambiental

Philippe Cousteau, apresentador e ativista ambiental

Bruno Deiro
Enviado especial / Rio

Nascido seis meses depois do acidente aéreo que vitimou seu pai em 1979, Philippe Cousteau Jr. só pode conhecê-lo por meio dos populares documentários do avo, Jacques Cousteau. Mais que o sobre nome famoso, porem, Philippe herdou a paixão pelos temas ambientais e veio ao Brasil na semana passada para gravar dois programas para a CNN International durante a Rio +20.
Desde o inicio do ano, ele comanda a serie The Road to Rio, que passou por países como Índia, China e México para apresentar exemplos de desenvolvimento sustentável. No Parque dos Povos, o ultimo episodio foi gravado em um painel que será exibidonocanalnodia29. Ativista ambiental e fundador da EarthEcho International, ONG criada ao lado de sua mãe, Jan, e da Irma, Alexandra, Philippe admite que o documento final da conferencia causou frustração.
Mas a aposta do ambientalista de 32 anos esta mesmo nos programas que produz. Empolgado, compara suas aventuras as de Indiana Jones e diz que ingressou na Bolsa de Nova York motivado pelos exemplos que mostra em Going Green, outro programa do canal que foi gravado no País.

O que o público pode esperar deste último episódio da série The Road to Rio?

O programa é parte de uma série que apresentamos antes de grandes conferências climáticas. Fizemos em Durban no ano passado e agora produzimos para o Rio, ainda veremos qual será o próximo. No Brasil, falamos sobre o que mudou nos últimos 20 anos (desde a Eco-92) e o que esperar após a conferência. Então, teve um formato um pouco diferente dos programas anteriores, no México e na China, em que mostrávamos perfis de boas práticas em determinadas cidades.

Como a frustração sobre os resultados da conferência no Rio influenciou a discussão?

Não afetou tanto, mas com certeza foi tratado. As pessoas precisam assistir, pois não posso falar pelos outros, mas foi parte do tópico. Há uma frustração geral com este rascunho, porque é sem dentes, fraco, sem ações mensuráveis, sem fórmula para forçar o comprometimento com ações.

A falta de proteção aos oceanos foi bastante criticada no rascunho. Como vê a questão?

O mar está exposto, é como o oeste selvagem. É, preciso impor leis, pois menos de 1% do oceano está protegido e tudo fica cada vez pior com as tecnologias de pesca. Com barcos maiores e radares modernos, se pode pegar até o último atum e incontáveis toneladas de camarão e tubarões, por exemplo.

Como tornar atrações voltadas para temas ambientais mais interessantes para o grande público?

Com boa TV e boas histórias, a verdade pode ser mais excitante e interessante do que qualquer história que criamos no papel. Em Avatar, muito do que James Cameron colocou na ficção científica daquele mundo é baseado em criaturas do oceano. Se você consegue trabalhar bem a história, as melhores virão de aventuras na natureza.

Você vê um interesse crescente por este tipo de programa?

Em setembro, vai ao ar uma expedição que fizemos para a Indonésia cheia de insetos, trilhas off road, situações em que pessoas quase morreram, ataques de tigres, algo como Indiana Jones. São histórias maravilhosas, pois é um Indiana Jones da vida real, algo que não é fácil de se fazer. E acho que é isso que explica a popularidade dos filmes do meu avô, eram aventuras reais e se posicionavam em relação a algo. E hoje, em um mundo cheio de problemas, disparidades, poluição, manchetes de jornais cheias de desastres, acho que as pessoas buscam esperança. Elas querem boas histórias, querem aventura, rir, chorar, e um pouco de esperança. É isso que temos tentado fazer na televisão e faremos mais nos próximos anos: contar boas histórias e dar esperança.

Quanto você assistiu do material produzido por seu avô?

Vi todos os filmes muitas vezes e li quase todos os livros.

Como estes filmes influenciaram no seu trabalho?

Meu pai morreu seis meses antes de eu nascer, mas ele produziu, filmou e dirigiu 26 dos documentários de meu avô desde o fim da década de 60, até morrer em 1979. Então, crescendo com os filmes do meu avô, os meus favoritos são da década de 70, pois também é um jeito de ver e conhecer meu pai, e isso foi realmente a inspiração para mim. Minha mãe participou de expedições por 13 anos e criou minha irmã e eu como mãe solteira. Então, convivi com meu avô até os meus 17 anos, foi uma grande inspiração, mas crescer com as histórias da minha mãe e ver meu pai pela televisão foi realmente importante para mim.

No Going Green, outro programa apresentado por você no canal, o foco está na economia verde. Tem sido difícil achar bons exemplos pelo mundo?

A parte mais difícil do Going Green é que, com tantas boas histórias, é preciso escolher quais contar. Não mostramos só o que se espera de um programa ambiental, como a proteção de árvores e de água limpa. E sobre como o setor privado está mudando o jeito de se fazer negócios. Trabalho com empresas de todo o mundo, vejo indústrias farmacêuticas e automobilísticas que tiram até 35% de sua energia de fontes renováveis, o que é melhor do que qualquer governo.

Com tantas viagens pelo mundo, onde você passa as férias?

Vivo em Washington, passo boa parte do tempo em Los Angeles e tenho um fundo de desenvolvimento sustentável que investe na Bolsa de Nova York, o que aliás me deixa orgulhoso, pois consegui pôr em prática as coisas de que falo. Tenho muita sorte de visitar, por causa do meu trabalho, lugares como selvas na Indonésia e no México. Mas meu lugar favorito é minha casa, dormindo numa manhã de domingo. Minhas férias são, como dizemos, "staycations" (gíria para descanso em casa), com meu cachorro e minha namorada, fazendo uma panqueca para tomar o café da manha.

OESP, 24/06/2012, Caderno 2, p. D9

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