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Índia entra na Justiça e pede pensão de soldado

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: Nelson Borges
06 de Jun de 2003

A índia Renildes da Silva quando denunciava o caso na Procuradoria da República

A índia macuxi Renildes Pereira da Silva, 20 anos, por meio do Conselho Indígena de Roraima (CIR), procurou a Justiça para pedir a pensão alimentícia do filho de um mês de idade. Ela garante que o garoto, Deivison Roni, é filho de um soldado do Exército que estava destacado para o 6o Pelotão Especial de Fronteira (6o PEF) em Uiramutã, e não quer assumir a criança.

O pedido de pensão, protocolado ontem no Ministério Público Federal (MPF), foi acompanhado de outras denúncias contra os militares. No documento eles reforçam o pedido de retirada do quartel daquela localidade, justificando que os atuais acontecimentos haviam sido previstos no início da construção.

Renildes contou que passou a ter contato com o militar em 2001. O relacionamento amoroso teria começado em julho daquele ano. Segundo ela, a relação foi interrompida, por mais de um ano, devido ao rodízio de soldados que existe no quartel, retornando em outubro de 2002.

"Ele prometeu que se algo de mais grave acontecesse, como a gravidez, que não tivesse medo porque se casaria comigo. Mas quando disse que estava grávida, ele disse que iria resolver, mas nunca mais apareceu", contou a índia ao dizer que a criança nasceu no dia 28 de abril.

Após o nascimento, Renildes disse que ainda conversou com o soldado por telefone, e até veio à Boa Vista procura-lo no comando geral. "Lá me disseram que ele está servindo no quartel de Surucucus (terra indígena Yanomami). Agora quero a pensão do meu filho, pois não tenho condições de sustenta-lo", complementou.

HISTÓRIA - Ao relatar como aconteceu o envolvimento amoroso, Renildes disse que já se tornou comum as meninas índias se relacionarem com os soldados. Garante que conhece outros casos de moças grávidas, inclusive adolescentes, que foram abandonadas pelos militares.

Conforme disse, o relacionamento geralmente começa nas festas dançantes do município, que costumam ocorrer durante os finais de semana no malocão Grajuí. Durante essas festas, Renildes assegura que as índias ingerem bebidas alcoólicas oferecidas pelos soldados. "Todo mundo sabe do namora das índias com os soldados, inclusive os chefes deles no quartel", afirmou.

Renildes só está denunciando o fato depois da criança ter nascida, porque tinha esperanças que o pai assumisse o menino. Segunda ela, a cada dia que passa, aumentam as relações amorosas entre índias e militares. Isso tem contribuído para afastar os jovens índios das índias.

EXÉRCITO - O assessor de comunicação do Exército, major Marcos Viana, informou no final da tarde de ontem, por telefone, que a corporação vai se pronunciar após a publicação da matéria.

MPF - Após receber a denúncia, o procurador do Ministério Público Federal (MPF), Rômulo Conrado, disse ontem, que vai encaminhar o caso à Polícia Federal, onde será aberto inquérito para apurar o crime de sedução das índias, envolvendo o uso de bebida alcoólica.

O procurador explicou que o pedido de pensão alimentícia é atribuição do Ministério Público Estadual (MPE), porque se trata de caso que envolve a vara da família. "Amanhã (hoje) vamos encaminhar à Polícia Federal, para apurar a questão criminal, e ao Ministério Público, para que peça a pensão. O resultado do inquérito pode ser juntado à ação que pede a retirada do quartel daquele local", disse Conrado.

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