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Incêndio criminoso destrói ocas em Niterói

OESP, Metrópole, p. C4
19 de Jul de 2008

Incêndio criminoso destrói ocas em Niterói
Advogado acusa empreiteiras de usar milícias para ameaçar indígenas

Clarissa Thomé

Incêndio criminoso destruiu seis ocas de tribo guarani instalada desde abril na Praia de Camboinhas, na região oceânica de Niterói (Grande Rio). O ataque ocorreu no momento em que os homens da tribo participavam de reunião em outro ponto do bairro. Somente mulheres, crianças e um índio estavam na aldeia quando o fogo começou, ao meio-dia. Único ferido, Joaquim Karaí Benite, de 43 anos, teve queimaduras de segundo grau nas costas e no braço esquerdo.

Quando o fogo começou, havia muitas crianças nas ocas. As índias correram para tirar três bebês, um de 11 meses, um de 1 ano e outro de 1 ano e 3 meses de uma das ocas. O fogo se espalhou rapidamente, e não houve tempo de retirar roupas e pertences pessoais. Benite tentou recuperar seus documentos, mas desmaiou na entrada de uma das ocas e por isso foi ferido. No momento do incêndio, uma enfermeira da Fundação Nacional de Saúde chegava para o acompanhamento médico das crianças e socorreu o índio. Também ficou em cinzas a escola, onde estavam os livros. Entre eles, o livro escrito pelo cacique Darci Tupã Nunes de Oliveira, de 29, que contava a história dos antepassados da tribo. Não há cópias.

"Não esperava encontrar tanta maldade aqui", disse Lídia Nunes, de 67, espécie de líder do grupo. Os índios haviam deixado Paraty, na costa sul fluminense, por causa de briga interna. Desde que chegaram a Camboinhas enfrentam resistência da associação de moradores do bairro e de empreiteiras que querem construir na região. Eles alegam que estão em áreas de sambaquis (cemitérios indígenas) e não pretendem sair. "Denunciamos ameaças sofridas pelos índios. Milicianos a mando de empreiteiras vieram à noite intimidá-los", disse o advogado Arão da Providência Araújo Filho, índio guajajara que integra a comissão de direitos humanos da seção Rio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ).

O presidente do Instituto Estadual de Florestas (IEF), André Ilha, disse que vinha negociando a retirada pacífica dos índios, porque a aldeia foi erguida em área do Parque Estadual da Serra da Tiririca. A legislação não permite ocupação permanente em área de preservação. "Eu estava numa reunião e, quando fui avisado, tive a certeza de que esse incêndio é criminoso. Existe fortíssima pressão da especulação imobiliária em torno das áreas não edificadas da Lagoa de Itaipu. Minha preocupação imediata é garantir o bem-estar mínimo deles."

O cacique Darci, filho da líder Lídia, disse que a tribo sofreu três ameaças nos últimos meses. A última ocorreu em 4 de julho, quando os homens da tribo participavam de audiência pública na Câmara de Vereadores de Niterói. Três homens armados ameaçaram as mulheres e disseram que matariam todos se não deixassem a área.

Peritos da Polícia Civil informaram que o incêndio foi criminoso porque havia vários focos. A delegacia de Itaipu (81o DP) abriu inquérito. Os índios pretendem fazer hoje uma manifestação na aldeia em Camboinhas.

Jovens mataram índio no DF

Em 20 de abril de 1997, o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, de 44 anos, foi queimado vivo por um adolescente e quatro jovens de classe média em Brasília, enquanto dormia em um ponto de ônibus. Morreu no dia seguinte. Na época, os jovens declararam achar que a vítima "era um mendigo".

Em 2001, os maiores foram condenados a 14 anos de prisão. Menos de um ano depois, conseguiram autorização judicial que permitia estudar e trabalhar. Em 2003, o benefício foi cancelado, após três dos envolvidos terem sido flagrados passeando, namorando e bebendo cerveja, sem passar por revista na volta ao presídio. Em agosto de 2004, conseguiram liberdade condicional. Hoje estão livres, mas não podem sair do Distrito Federal.

OESP, 19/07/2008, Metrópole, p. C4

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