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Imigração paraguaia incha aldeias indígenas do Paraná

Gazeta do Povo-Curitiba-PR
Autor: Miguel Portela
19 de Abr de 2005

Famílias guaranis cruzam a fronteira em busca de benefícios sociais no Brasil

Povoados na Região Oeste receberam centenas de índios nos últimos quatro anos

A aldeia guarani do Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, cresceu 30% em função do fluxo imigratório: superpopulação dificulta ações da Funai.

Cascavel - A imigração de índios guaranis do Paraguai para o Brasil está inchando as aldeias localizadas na Região Oeste do Paraná. Segundo o administrador-geral da Fundação Nacional do Índio (Funai), Valdemar Ramalho dos Santos, as famílias estão cruzando a fronteira em busca dos benefícios sociais oferecidos pelo governo brasileiros e que também são usufruídos pelos povos indígenas, como a aposentadoria e o Bolsa-Família.

Em pelo menos três aldeias do estado, a população vem sofrendo constantes alterações devido à corrente imigratória: Rio das Cobras (em Nova Laranjeiras), Terra Prometida (em Diamante do Oeste) e Ocoy (em São Miguel do Iguaçu). O problema é maior na aldeia do Ocoy, localizada a cerca de 50 quilômetros da fronteira Brasil-Paraguai. O número de famílias guaranis cresceu cerca de 30% nos últimos quatro anos, segundo a Funai. Hoje moram no local 130 famílias - 564 índios - boa parte oriunda do Paraguai.

O fato obrigou a Funai, com o apoio dos caciques, a restringir o acesso dos guaranis paraguaios às aldeias brasileiras. No ano passado, por exemplo, 20 famílias do Ocoy retornaram ao Paraguai ou foram removidas para Terra Roxa, onde há uma pequena concentração do povo guarani.

Para evitar que o problema fuja do controle, autoridades dos dois países começaram a discutir uma solução sobre a imigração dos guaranis já no ano passado. De acordo com o administrador-geral da Funai, a discussão conta com o apoio de grupos indígenas e da Itaipu Binacional, que tem uma equipe técnica que atua nessa questão.

Com a formação do Lago de Itaipu em 1983, algumas aldeias guaranis, tanto do Brasil quanto do Paraguai, sumiram do mapa, obrigando a hidrelétrica a remover a população indígena para outras localidades. As aldeias de Ocoy e a Terra Prometida são algumas delas.

Santos conta que a intervenção de antropólogos paraguaios já deu resultado com a diminuição da imigração. O pedagogo e representante da Funai na aldeia Rio das Cobras, o índio caingangue Florêncio Rekayg Fernandes, afirmou que a vinda dos guaranis se deve às condições precárias em que eles vivem no Paraguai. Além disso, a expansão da agricultura paraguaia tem expulsado os índios de suas terras. Com esses problemas, eles optam por vir ao Brasil em busca de uma vida melhor.

No entanto, Fernandes frisou que a realidade indígena brasileira não é muito diferente da situação do país vizinho, lembrando que muitas aldeias enfrentam problemas como a fome, a desnutrição e a demarcação das terras. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, mais de 20 crianças já morreram por causa da desnutrição este ano. A miséria atinge tanto as crianças brasileiras quanto às paraguaias.

De acordo com a Funai, a imigração em Mato Grosso do Sul é maior em relação ao Paraná. Lá são os caiuás-guaranis que estão inchando as aldeias da fronteira com o Paraguai. A Funai informou que os caiuás buscam atendimento e assistência médica brasileira. No Paraná, os guaranis, além do atendimento gratuito, querem a inserção no Bolsa-Família e no programa de aposentadoria.

De acordo com Santos, há uma grande procura por esses benefícios nas aldeias do Oeste. O cadastramento dos beneficiários é feito pela Funai. No Rio das Cobras, cerca de 50 famílias de caingangues recebem o Bolsa-Família. Outras 250 estão na fila aguardando a inserção no programa. Já o número de aposentadorias na aldeia Ocoy não tem um número oficial.

Santos disse que a Funai não tem como impedir o trânsito dos índios de fora porque eles são pessoas livres e pertencem à mesma raiz étnica. Para o ex-cacique e hoje vereador em Nova Laranjeiras, Neoli Olíbio, a rotatividade das famílias indígenas é comum. Segundo ele, é um costume dos índios visitar os parentes que moram no Brasil, Paraguai e Argentina, e de acordo com ele, muitos índios acabam ficando.

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