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Imigração

Gazeta do Povo-Curitiba-PR
Autor: Denise Paro
07 de Jun de 2001

Funai tenta conter invasão de indígenas estrangeiros na reserva de São Miguel do Iguaçu Índios fogem da crise paraguaia para o BrasilGuaranis são atraídos por cesta básica, aposentadoria e assistência médica brasileiras

Famílias inteiras pedem esmolas aos turistas em Ciudad del Este, esperando uma chance para cruzar a ponte da Amizade e entrar no Brasil. A invasão de índios guaranis do Paraguai por Foz do Iguaçu preocupa as autoridades brasileiras. Na reserva de Santa Rosa de Ocoí, distrito de São Miguel do Iguaçu, próxima a Foz, a Funai (Fundação Nacional do Índio) já está tentando barrar a passagem deles, temendo a superpovoação na área. "Não há nada contra eles, mas se nós deixarmos vir todo mundo, daqui a pouco não sobra mais espaço para os nossos, diz o coordenador da área, Ramon Soares.O fenômeno da imigração indígena é fácil de identificar nas ruas das cidades dos três países que se encontram em Foz. São famílias inteiras em andrajos, arrastando crianças pela mão, disputando espaço em calçadas e escadarias de igrejas – todos pedindo esmolas aos turistas e esperando uma chance de cruzar a ponte da Amizade, para entrar no Brasil.Uma cena de Ciudad del Este (lado paraguaio), dias atrás, com os personagens típicos do drama social: as crianças Gregório, Cíntia e Sandra. Elas se lambuzavam com sorvetes, enquanto suas mães pediam esmolas.Segundo estatísticas do governo paraguaio, 60% dos cerca de 135 mil índios do país são sem-terra. Para as famílias, restam duas alternativas para sobreviver: pedir esmolas ou mudarem-se para o lado brasileiro.O que mais atrai aos guaranis paraguaios e até alguns da Argentina é a concessão de cesta básica, aposentadoria e assistência médica brasileiros. Os índios do Brasil reclamam deste atendimento – mas para os paraguaios o lado de cá é o paraíso.Sabe-se que cinco famílias de avá-guarani da reserva de Santa Rosa são paraguaias. Algumas deles conseguiram legalizar a situação e hoje recebem aposentaria. O desejo de viver no Brasil é tão grande que alguns chegam à reserva dizendo que vão visitar parentes e acabam ficando para sempre. " Quando percebíamos eles já haviam feitos seus ranchinhos", conta, um morador do lugar.Segundo o chefe do posto da Funai em São Miguel do Iguaçu, Imélio Antônio Fantin, o governo brasileiro não permite mais que indígenas de se instalem em reservas brasileiras. No entanto, apesar da proibição, os guarani procuram a reserva para assistência médica. Como o Brasil não pode negar atendimento, o serviço continua sendo prestado em caráter emergencial, com autorização do Consulado Brasileiro em Ciudad del Este.CAUSA Alagamento de terras dificultou situaçãoPara o indigenista do Núcleo de Pesquisas Indígenas (NPI), de Foz do Iguaçu, Kiko Borges, as dificuldades dos índios guaranis da fronteira do Brasil e Paraguai está relacionada com o alagamento de terras pelo lago de Itaipu, em 1982.No lado brasileiro, a situação foi parcialmente solucionada. A hidrelétrica indenizou os guaranis que perderam terras em Diamante do Oeste e Santa Rosa do Ocoí .No Paraguai foram inundadas áreas de 31 comunidades indígenas. No entanto, segundo Borges, somente 600 hectares foram devolvidos. Em 1997, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) enviou à direção da Itaipu no lado paraguaio um ofício pedindo providências para a situação, sem sucesso.ÍNDIOS Ciudad del Este, última paradaFoz do Iguaçu - Para os indígenas que não conseguem cruzar a fronteira do Brasil, a última parada em busca de socorro é o centro da cidade paraguaia de Ciudad del Este, separada da brasileira Foz do Iguaçu apenas por uma ponte."Queremos qualquer ajuda. Roupa, comida, cobertores", implora o guarani Solteiro Gonzalez, 28 anos, integrante do grupo de 10 adultos e 20 crianças que esmola na praça de Ciudad. Eles estão lá há uma semana, depois que, empurrados pela fome, deixaram Caaguazú, a cerca de 250 quilômetros. Outro guarani, Inácio Ortiz, 40, pede coisas concretas: quer telhas para uma aldeia em Hernandárias, a 26 quilômetros da fronteira, no lado argentino.Usando roupas comuns e numa casa abandonada, os índios só não são confundidos com moradores de ruas porque possuem traços físicos que facilitam a identificação.Há um mês, a prefeitura de Ciudad del Este fretou um ônibus para levá-los de volta ao interior, mas eles não quiseram. Os paraguaios justificam a miséria dos índios como sendo cultural. Segundo a funcionária da prefeitura de Ciudad del Este, Rosana Villalba, os guaranis não estão acostumados com o trabalho, quando precisam comida eles preferem mendigar".

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