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Ilha paradisíaca abriga uma reunião árida sobre um tema quente

O Globo, Ciência, p. 25
03 de Dez de 2007

Ilha paradisíaca abriga uma reunião árida sobre um tema quente
Cúpula de Bali começa à sombra de governos pouco dispostos a fazer concessões

Gilberto Scofield Jr. Enviado especial

Nuvens pesadas de chuva cobriam ontem os céus da ilha de Bali, na Indonésia, onde 10 mil delegados de cerca de 190 países se reúnem a partir de hoje, pelas próximas duas semanas, na 13ª Conferência da Convenção de Mudança Climática da ONU. O calor de 33 graus Celsius e o céu assustador não poderiam ser mais ilustrativos dos dilemas pelos quais passa o planeta na tentativa de chegar a um consenso sobre como reduzir o processo de aquecimento global.
Até as paredes do supervigiado Centro de Convenções Internacionais de Bali, em Nusa Dua, sabem que não há chances de que deste encontro resulte em novo acordo, capaz de substituir ou prolongar os atuais esforços para redução de gases poluentes e proteção ao meio ambiente, reunidos no Protocolo de Kyoto, de 1997, que termina em 2012. Mas a conferência é uma oportunidade de ouro para que os países estabeleçam uma agenda de compromissos capaz de resultar num novo acordo em 2009. Com isso, haveria tempo de se aprovar o documento nos parlamentos de todos os países para que entre em vigor após o fim de Kyoto, em 2012.

- Os períodos de secas extremas e inundações monumentais que vivemos, com 10% a 20% a mais de incidência de ciclones tropicais, são sinais de mudanças climáticas ao nosso redor que exigem ações rápidas - disse Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção do Clima. - Não sou ingênuo de achar que este encontro resolverá todos os impasses entre os defensores de ações mais rígidas de combate às emissões e os que têm como prioridade o crescimento econômico e o combate à pobreza. Mas acredito que este é o momento para montarmos uma agenda de trabalho comum que permita um acordo em 2009. Temos pressa.

Divergências sobre corte de emissões
A tarefa é gigante. Kyoto, que acaba em 2012, conseguiu que 36 países desenvolvidos se comprometessem a reduzir suas emissões de gás carbônico e outros gases poluentes em 5,2% em relação aos níveis de emissão de 1990. E, efetivamente, os países chegarão ao fim do acordo de Kyoto emitindo 11% menos, bem além da meta fixada, disse De Boer, graças principalmente ao colapso da União Soviética e à decisão das repúblicas do Leste da Europa de fechar suas indústrias pesadamente poluidoras.

Mas o quadro catastrófico pintado este ano pelos cientistas do painel de climatologistas da ONU (o chamado IPCC) mostra que os esforços precisam ser muito maiores se os governos quiserem efetivamente resolver o problema do aquecimento. Se o mundo quiser que o aquecimento não passe de dois graus até o fim do século, por exemplo, precisa cortar as emissões em 50%. Aí começam as divergências.

- Há países, como a União Européia, que vêem com otimismo a meta de limitar o aquecimento a dois graus até 2100. Outros, como as nações insulares, tipo Maldivas ou Tuvalu, acham que aceitar o aumento de dois graus é uma atestado de morte e que a elevação do nível do mar acabará com os países - disse Yvo de Boer.

Países emergentes, como China, Índia e Brasil, não querem metas compulsórias porque acham que os grandes cortes precisam ser feitos pelos países ricos. Aqueles que, afinal, foram os maiores responsáveis pela situação atual. Além disso, alegam, o combate à pobreza extrema e o crescimento econômico são suas prioridades. Se os ricos querem metas de cortes, que viabilizem financiamento e transferência de tecnologia de geração de energia limpa a custos baixos.

Os países ricos, por sua vez, acham que os emergentes são hoje os maiores poluidores do mundo, especialmente China e Índia, e que metas de cortes devem ser buscadas pelos governos desses países. Entre todos, o mais radical são os EUA, que não firmaram o Protocolo de Kyoto e cujo Senado acha que limites de emissão de gases podem frear o crescimento do país.
- Todos concordam que mais esforços precisam ser feitos por todos. O que não há é um claro consenso - diz Yvo de Boer. -Alguns países ricos falam em reduzir emissões em até 50%, como Japão, enquanto alguns emergentes já falam que o controle das emissões pode ser feito.

Há espaço para uma proposta comum.

O Globo, 03/12/2007, Ciência, p. 25

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