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A Ilha do Aquecimento

O Globo, Ciência, p. 28
24 de Abr de 2007

A Ilha do Aquecimento
Descoberta na Groenlândia, ela surgiu depois que uma geleira derreteu

Michael McCarthy Do Independent

O mapa da Groenlândia terá que ser redesenhado. Uma nova ilha surgiu em sua costa, repentinamente separada da Groenlândia por causa do derretimento da cobertura de gelo.

Cientistas estão considerando o fenômeno um dos mais alarmantes sinais das mudanças causadas pelo aquecimento global.

Com alguns quilômetros de extensão, ilha era considerada a ponta de uma península localizada na parte superior da remota costa leste da Groenlândia, mas uma grande geleira que a ligava ao continente derreteu completamente, deixando-a cercada pelas águas do Oceano Ártico.

Com o formato de uma espécie de mão de três dedos, a ilha foi descoberta pelo veterano explorador americano Dennis Schmitt, um especialista na região. Ela a batizou de Warming Island (Ilha do Aquecimento) ou Uunartoq Qeqertoq, no idioma esquimó.

O Centro de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos confirmou a existência da ilha através de uma série de fotos de satélite. Elas mostram como ela era uma parte integral da região costeira da Groenlândia até 1985; aparecendo ligada à terra apenas por uma pequena ponte de gelo em 2002; e surgindo completamente separada nos verões de 2005, 2006 e 2007. Agora, ela é um pedaço de terra independente, com picos e formações rochosas, se projetando verticalmente em direção ao mar.

Como demonstraram as fotos, a ilha foi o resultado de uma poderosa, rápida e inegável.

transformação. Sua existência simboliza os iminentes efeitos das mudanças climáticas no planeta, dizem cientistas.

O surgimento da Ilha do Aquecimento está sendo considerado um dos exemplos mais contundentes da desintegração da cobertura de gelo da Groenlândia, um fato que os cientistas só perceberam recentemente e que está acontecendo mais depressa do que se poderia imaginar. Dona da segunda maior concentração de gelo do planeta, atrás apenas da Antártica, a Groenlândia é a maior ilha do mundo. Se os seus 2,5 milhões de quilômetros cúbicos de gelo derreterem por completo, o nível do mar subirá cerca de sete metros.

Essa elevação seria suficiente para inundar boa parte das cidades costeiras do mundo. O mar alagaria também países densamente povoados, como Bangladesh, e causaria o desaparecimento de ilhas como as Maldivas. Mesmo um décimo dessa elevação do nível do mar já teria conseqüências devastadoras.

No momento, a elevação global é de aproximadamente três milímetros por ano, que foi a média registrada entre 1993 e 2003. Isso é bem mais do que a média entre 1961 e 2003, que foi de 1,8 milímetro por ano. A Groenlândia contribui com 0,5 milímetro desse total. Até pouco tempo, acreditava-se que rupturas em sua cobertura poderiam levar mais de um século para acontecer, mas estudos recentes, realizados a partir de 2004, mostram que elas já estão acontecendo e de forma acelerada.

A velocidade com que as geleiras estão se desprendendo e atingindo o mar aumentou consideravelmente nos últimos anos. Cientistas calculam que em 1996 elas depositaram cerca de 50 quilômetros cúbicos de gelo no oceano. Em 2005, esse volume aumentou para 150 quilômetros cúbicos de gelo.

Um estudo publicado no ano passado mostrou que o despreendimento está sendo facilitado por uma espécie de lubrificante, gerado por águas derretidas dentro da cobertura. Infiltrando-se a partir da superfície, ele atua na base do gelo e causa as rupturas.

O Globo, 24/04/2007, Ciência, p. 28

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